Uma voz na sombra

Uma Voz na Sombra

Raul Tartarotti

Viver através de suas batalhas diárias na busca da sobrevivência, é um milagre que muitos conseguem realizar. Dormir ao relento por não ter casa, e por ser negro sofrer o descaso de uma sociedade racista e preconceituosa, se torna mais doída a luta.

Essa é a forma com que algumas pessoas buscam respirar em seus espaços, abertos no cardápio de ofertas em vidas ditas mundanas.

Sidney Poitier, protagonista de uma história similar a descrita, nos deixou com 94 anos, após uma existência repleta de intensidade e dor. Esse ator, protagonista de seus filmes, nos mostrou não só diversão e boas histórias, mas carregou densamente dramas de uma vida a frente de seu tempo. Utilizou a arte como função, pra dar sentido ao que fazia. Foi corajoso e inovador, numa época de intenso preconceito racial e poucas oportunidades a tantos que sofriam pelo racismo, fome, e falta de trabalho. Com tenacidade construiu sua carreira de ator e pai de família, foi o primeiro negro no cinema americano nos anos 1960. Recebeu o Oscar por sua interpretação em “Uma voz na sombra”, que contou a história de um itinerante desempregado, como ele mesmo viveu durante um tempo duro de sua trajetória. Mais tarde o Presidente Obama concedeu a Poitier a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior homenagem civil do país. Sidney pegou pra si a responsabilidade em ser o protagonista nessa carreira de brancos, pra que outros pudessem vir após. Educado e elegante, interpretou personagens que exploraram tensões raciais, enquanto os americanos lutavam contra as mudanças sociais.

A educação é mãe da liberdade, e lhe forneceu a rédea e o leme, que todos necessitamos para conter nossos impulsos e governar nossa vida. Guardamos na memória, histórias vividas, suadas e cheia de personagens que nos contaram suas aventuras com o passar dos anos.

Plantar memórias através da própria existência, tem sabor de vida acontecida no ontem, em nossos corredores escolhidos pelo desejo de um sutil momento, e não fixadas digitalmente como ocorreu com os clones humanos no filme Blade Runner 2049.

Esses não tiveram suor e lágrimas na construção de sua história, muito menos tempero em suas vivências. São apenas um amontoado de DNA em corpos autômatos, sem graça e textura de gente, ficaram enjaulados tentando imitar humanos numa lamentável existência.

Engano que não devemos cometer jamais, em utilizar aventuras prontas de outros, tomando pra si como verdades, já que fomos produzidos por criaturas de nossa espécie, e não projetados conforme o gosto de um mestre de obras desumano.

Dê cor a sua memória, saiba apreciar cada doce momento que envolve sua existência passageira, você é o melhor individuo que a pode conduzir, todos somos um pouco de artistas de nossas vidas, por isso diferencie sua trajetória com sabor e sorriso, traços típicos de uma criatura encantada com o que tem pra levar sobre suas próprias pernas.

@raultarr

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