Festas Familiares

Festas familiares

Eugênia Câmara

Já estamos na primavera onde os frutos ficam maduros e as árvores floridas. E nós, humanos, entramos num estado de graça acreditando que o próximo ano trará toda a felicidade de uma vida. Então, com essa crença materializada é onde começam os problemas. Mas um desejo é unânime: passar o Ano Novo na praia.

Família reunida numa casa de praia (sim, porque gaúcho só admite passar o ano novo na praia – parece que não existe outra opção) desde a avó de 90 anos até o bebê de um mês de idade.

Casa alugada, divisão dos quartos, primeira polêmica acompanhada de caras feias. Apartados os ânimos, todos ficaram com um local para dormir, não necessariamente numa cama ou num dormitório, exceto a vovó que é a matriarca da família. Essa fica com o melhor quarto, pois precisa de acompanhante para suas atividades triviais. A neta, que de boba não tem nada, aproveita para colocar seu rebento recém-nascido no mesmo quarto da vovó, não sem antes dar uma lembrancinha para a cuidadora, assim poderá dormir a noite toda; ou assim acredita.

Primeira noite na casa e ninguém dormiu direito. Como estava chovendo, metade jovens ficaram em casa jogando videogame, o restante ficou vendo o seriado Walking Dead e os adultos jogavam cartas ou conversa fora, sempre acompanhado de uma cervejinha bem gelada.

Como é de se esperar, a primeira turma a dormir foram a vovó e o bebê, seguido pelos adultos – já passado da meia noite – e por fim os jovens, que resolveram dormir quando amanheceu, na esperança de ter sol no período da tarde.

A noite foi barulhenta, com os berros dos jovens, seja por causa do filme ou do videogame. Cada grito uma acordada. Quando, finalmente foram dormir o bebê começou a chorar. Estava com fome coitadinho, nem sabemos se dormiu direito com os roncos da vovó e a algazarra dos adolescentes.

Pobre da cuidadora, não sabia se atendia o bebê ou a vovó que queria ir ao banheiro. Nesse momento ficou pensando se a “lembrancinha” dada pela mãe da criança tinha valido a pena. Agora já é tarde e “Inês é morta”, como dizem.

Por volta das nove horas, o primeiro adulto se levanta e, por consideração, vai preparando o café da manhã para todos. Café, leite, achocolatado, pão, biscoito, manteiga, geleia, mel, queijo e presunto, são colocados na mesa. À medida que vão chegando, vão tomando o seu desjejum.

Após a comilança matinal vem a pergunta: – O que vamos fazer de almoço? Pergunta retórica, pois todos já sabem a resposta: – Churrasco!!!

Então, para comprovar que o patriarcado ainda não foi extinto, os homens vão ao açougue e compram carne, salsichão, batatas, maionese pronta, pão (cacetinho -não pode faltar), alface, tomate (para uma saladinha light), limão e vodca para a caipirinha, e muita cerveja, afinal estavam todos de férias.

Menos a babá – sim porque agora ela estava exercendo outra função além daquela que fora contratada. Fato esse que uma das jovens da família, que estava cursando direito, ter avisado à tia que cuidar do rebento é desvio de função e, se a moça entrasse na justiça com uma reclamatória trabalhista ganharia sem dó nem piedade.

Bobagem, disse a tia! Ok, estava dado o recado.

Depois da churrascada que durou até as 16 horas, e as mulheres terem lavado toda a louça e limpado a cozinha foram dormir, menos os jovens que foram passear. E a vovó? Sentadinha numa cadeira de vime vendo a vida passar. E o bebê? Estava fazendo o mesmo que a senhora, só que para ele a vida é uma brincadeira.

Quando acordam já está anoitecendo. Então vem a função banho. A casa tem apenas dois banheiros para uma dúzia de viventes. Obvio que termina em fila.

Como toda a construção que se preza, no nosso litoral gaúcho, não se pode ligar dois aparelhos que consumam muita energia ao mesmo tempo sob pena de cair os disjuntores. Mas dito e feito, foi o que aconteceu. Avisos não foram ouvidos. Depois de quase todos terminarem o banho com água fria aprenderam a respeitar as imperfeições de um convívio familiar.

Janta: Carreteiro com a carne que sobrou do almoço. Agora a comilança estava por conta das mulheres. E não é que elas capricharam? Tinha ovinho e salsinha picada e queijo ralado para quem quisesse incrementar seu prato. E como a noite estava um pouco fria, nada melhor que um bom vinho para degustar junto com a janta. Ah, tinha até sobremesa, feita por uma das jovens (torta de bolacha) que é diabética e não pode comer doces!!!

Após o jantar, conversa vai, conversa vem e quando se vê já é meia noite. Hora de irem para cama descansar seus corpos de nada fazerem, a não ser comer e beber, afinal amanhã é outro dia, mas as histórias se repetem.

 

@mecalves

 

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