Uma fração de segundo e vamos nos lembrar

Figura(Xilogravura, A professora) J. Borges

Uma fração de segundo e vamos nos lembrar

Geórgia Alves

Vamos nos lembrar do tempo em que a desidratação era a principal causa de mortes entre crianças. Uma fração de segundo, sem as políticas feitas, ou as mal feitas inspiradas pelo pensamento inaugurado no governo do PT, e vamos nos lembrar rapidinho o que é ter milhões de brasileiros – o que em quatro anos foi o bastante para vermos – a dimensão da indulgência do país propagado enquanto pátria amada. Deus, amor, família, “o país em primeiro lugar”. Se há uma coisa que aprendemos em política é que o discurso nem sempre bate com a prática.

O que as escolas em tempo integral fazem – e hoje ninguém vê e poucos reconhecem, se sugadas em seus recursos, a exemplo do que acontece com as universidades, rapidinho vamos logo sentir na pele os efeitos. Sentir a pressão das massas, da adolescência sem acolhimento e sem alimento. A desnutrição, a inanição, a fome, a exclusão, a miséria já foram nossos principais problemas. Não faz muito tempo, Chico Science pipocou nas rádios lembrando um nome que nossos inconscientes coletivos guardaram com tamanho afeto que tudo que o trouxesse de volta só poderia soar bom e necessário.

Josué de Castro. O nome é Josué de Castro e o livro a geografia da fome. Se o Brasil de hoje representa o abuso de uma falsa elite, sem modos, isso é o que tornou possível experimentar como movimento de alternância naturalmente observável em qualquer história como ondas de ascensão e digressão da sociologia. Se é uma classe média que aspira limpar o mal que vem promovendo com papel de diamante, a exemplo das elites da culminância europeia, é porque havíamos vencido o problema da fome.

O problema da ausência de escolas e universidades. O problema da falta de vagas. O problema do acesso à Educação. A uma cultura inclusiva, que permite senão ler os grandes clássicos, pelo menos ter uma nação alfabetizada. O problema do letramento. Do analfabetismo é um estágio vencido. O problema do letramento em Arte. De conhecer e reconhecer o que propõe uma obra de Arte. Do que sinto diante da Xilogravura de Jota Borges e me acalmo. Da Litogravura de Fayga Ostrower. Da obra de Gilvan Samico. Do legado de Maria Bonomi.

@georgia.alves1

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