O sol brilhará novamente

Eugênia Câmara

Às vezes, o paraíso está a um passo de nossas mãos. Estou falando da Barra do Ribeiro, que fica aproximadamente sessenta quilômetros de Porto Alegre.

Resolvi, junto com Gaia Maria, minha fiel escudeira, alugar, por cinco dias, uma casa na beira do rio.

O lugar e a residência não podiam ser mais lindos. As janelas da sala ficam de frente para o rio onde nasce o sol.

Nesse momento temos certeza que Deus existe.

Por ser um lugar onde impera a natureza e o rústico, a Internet é precária, em muitos momentos inexistente. Avisada desse detalhe, resignei-me a levar apenas o celular. Mas tudo bem, afinal o objetivo é descansar para enfrentar 2023 com bastante energia.

Agora são seis horas da manhã e, sentada na varanda, aprecio a exuberante natureza que hoje nos surpreende com um amanhecer nublado, mas nem por isso feio.

Ao som de ” I’d fly” de Diane Schuur, escrevo meus pensamentos nessa folha de caderno encontrada numa mesinha.

Nesse momento a felicidade tomou conta de mim ao admirar a perfeita beleza da vida.

O rio deixa sua água travar um conluio com a grossa areia transmitindo paz ao embalo do pulsar.

No horizonte a nuvem pesada e escura cobre o resquício de sol e, aos poucos, toma conta do céu.

Gotas caem como se fossem lágrimas sentidas e sofridas, que ao tocarem no solo seco e árido transformam-se numa relva fértil e florida.

Assim é a vida. Uma constante mudança. Uma constante descoberta, ao mesmo tempo, um eterno “déjà-vu”.

Esse é o mistério da vida; ser tudo é não ser nada.

Hoje, o nada não tem espaço, amanhã talvez ou com certeza.

As gotas cessaram e o sol voltou a disputar espaço com as nuvens. O sol vencerá porque sempre haverá um amanhã, mesmo que não estejamos mais aqui, porque assim é a vida.

@mecalves