Loucura de Amor

Loucura de Amor

Raul Tartarotti

Toda minha vida está lá em casa, fotos da família, inclusive daqueles que não estão mais além delas, suas roupas que eu ainda utilizo, as cartas que me escreveram nos aniversários, os cartões que vieram junto com os presentes. Minha casa é um abrigo, um acorde da razão onde o tempo para, e não quero que ele se esconda e me deixe fora de seu reinado, no sigilo de toda atenção que eu deixo lá dentro. Sempre permiti que a vergonha ficasse de lado, pra não ser minha limitação de amanhã e impedir de ser eu mesmo com minhas gavetas da memória. As ligações que fazemos com os outros são nosso maior tesouro, é onde o arco-íris nasce e nos guia. É o que podemos esperar de nossas vidas, por vezes secas, doídas e maltrapilhas, mas também vigorosas e esperançosas pelo muito que podemos realizar. Somos feitos pra isso, estarmos juntos, nos sentir presentes dentro do que somos, e manter os laços que construímos densos e longos. Precisamos chorar nossos mortos e receber nossas crianças de braços abertos. Ensinar tudo que nos ensinaram e que nos foi concedido durante um tempo, que foi intenso, breve ou longo, mas fez muito sentido, esse é o motivo do nosso viver. Quem quer viver pra sempre, um doce momento a mais apenas, e ficar a sós sem a presença de todos que se foram. Seria uma eternidade vazia. Como aquele casal que troca as flores no túmulo de seu filho morto na guerra, esse é o tamanho da eternidade.

Na Alemanha o dia nacional de luto se chama Volkstrauertag. Desde 1952 aquele povo dedica um domingo para lembrar e prestar homenagens aos mortos em conflitos, ou do resultado da opressão, mas especialmente os mortos nas duas guerras mundiais e as vítimas do nazismo. São os que fizeram falta pra alguém, e que estimulam a memória saudosa pra toda existência de um outro.

Não se existe sem razão, ou por algum motivo só pra ser seu e dizer que inventou com os olhos abertos e os sentidos despertos. Se o seu sonho estiver nas nuvens, ele está no lugar certo. O perigo, é se ele for curto, medíocre, e você chegar lá. Marcello Mastroianni disse que todos deveríamos ter duas vidas, uma para ensaiar e outra pra viver.

No filme loucura de amor as duas coisas acontecem ao mesmo tempo, ele nos revelou as desventuras de um casal de jovens muito diferentes entre si, e que se uniram de um jeito mais adverso ainda. O rapaz se dedicou incessantemente em se aproximar da jovem com problemas mentais, e que vive num centro psiquiátrico, mas que o emocionou com seu brilho no olhar e paixão de viver, que despertou o perfume da emoção no encontro com o sentido da vida. Necessitou da ajuda de outro paciente maluco para conquistá-la, tendo muita sensibilidade e esperteza na forma e conteúdo nessa empreitada. Quer saber o final do filme? Não deixe de procurar.

Cabe a você, a busca a quem vai dedicar seus dias de sorriso e atenção. Mas também pode esperar ser escolhido(a), há uma pequena chance de sua loucura ser percebida, mas se caprichar no que tem a oferecer, alguém pode gostar de seu olhar, e te esperar no portão pra tomarem um remédio juntinhos.

 

@raultarr

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1 comentário em “Loucura de Amor

  1. Que crônica maravilhosa! Me fez lembrar daquela canção: Que minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra também”, de Oswaldo Montenegro.

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