Dostoiévski, o observador pleno da alma humana

Dostoiévski, o observador pleno da alma humana. 

Raul Tartarotti

Não faltou muito para que Fiódor Dostoiévski, morresse crivado de balas muito antes de chegar ao auge de sua criatividade. Em 1849, quando ainda era pouco mais do que um aspirante ao sucesso na escrita, o autor russo – nascido há exatos 200 anos, em 11 de novembro de 1821 – foi detido pela polícia de Nicolau 1, como integrante de uma célula revolucionária. Seu crime: ter acesso, em clubes clandestinos de leitura, a obras literárias que traziam críticas ao tzarismo e, portanto, eram consideradas subversivas.

 

Dostoiévski logrou atingir certo sucesso já com seu primeiro romance, Gente Pobre, o qual foi imediatamente elogiado e protegido pelo mais importante crítico literário russo da primeira metade do século XIX, Vissarion Belinski. Seu segundo romance, O Duplo – obra muita famosa, tendo sido reinterpretada literária e cinematograficamente -, recebeu críticas muito negativas, inclusive do seu antigo protetor, críticas que acabaram por destruir o reconhecimento que Dostoiévski começava a adquirir como escritor. Apenas após seu retorno da prisão na Sibéria, repetiria seu sucesso inicial com a semi-biográfica, “Recordações da Casa dos Mortos”, a qual trata dos anos que passou na prisão. Mais tarde sua fama aumentaria drasticamente graças a obras como Crime e Castigo, O Idiota e Os Demônios. Foi já próximo da morte que consolidou-se um dos maiores escritores de todos os tempos com sua obra-prima Os Irmãos Karamazov.

As reflexões humanas ainda latentes, mantém seu pensar atraente, já o seu destino, vai depender do quanto souber aprofundar a sabia mensagem do mestre fiódor:

 

“Quando é mais penoso compreender tudo, tomar consciência de todas as impossibilidades, de todos os muros de pedra; porém não se humilhar diante de nenhuma dessas impossibilidades, diante de nenhuma dessas muralhas se isso te repugna, chegar, seguindo as deduções lógicas mais inelutáveis, às conclusões mais desesperadoras, no tocante a esse tema eterno de tua parte de responsabilidade nessa muralha de pedra, se bem que esteja claro até a evidência que tu não estás aqui para nada, e em conseqüência mergulhares silenciosamente, mas rangendo deliciosamente os dentes, na tua inércia, pensando que não podes mesmo te revoltar contra seja o que for, porque não há ninguém em suma, porque isto não é senão uma farsa, senão uma falcatrua, porque é uma trapalhada, não se sabe o quê nem se sabe quem, porém que, malgrado todas essas velhacadas, malgrado essa ignorância, tu sofres, e tanto mais quanto menos compreendes”

Fiódor Dostoiévski

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@raultarr

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