AMIGOS PARA SEMPRE…EM GRAMADO

AMIGOS PARA SEMPRE…EM GRAMADO

Pedro Santos Oliveira

Pra falar a verdade, eu tinha uma tremenda resistência em conhecer a cidade de Gramado… lá nas serras do Rio Grande do Sul, que, para mim, era apenas um lugar de muito frio… e apropriado para quem gostasse de “ficar naquela frescura de degustar um bom vinho”… já que eu sempre fui louco pelo calor sensual das praias… e pelo dourado mágico de “uma loura estupidamente gelada”! Mas acabei indo… e ainda bem que eu fui! Cidade linda! Parece que a gente é transportado para algum lugar da Alemanha… país onde eu ainda não fui (aliás, nunca fui em nenhum outro lugar além fronteiras…), mas tenho em mente o que pude ver na tevê ou em fotos de lá. Inclusive, tem em Gramado até um lago arborizado com espécies vindas da “Floresta Negra” alemã. Uma cidade bem limpa e organizada, que chama a atenção por não possuir semáforos. Quando fomos, em agosto de 2019, o destino era o “Festival de Cinema de Gramado”, nos hospedando pertinho da “Rua Coberta”, via que dá acesso ao “Cine Embaixador”, hoje chamado “Palácio dos Festivais”. Ali ocorrem as projeções dos filmes concorrentes e as premiações aos vencedores e homenageados. Comparando, confesso que prefiro o “Festival de Cinema de Tiradentes” ao de Gramado, mesmo sabendo que este é mais famoso, mas o evento mineiro permite uma maior participação do público, vivendo-se mais o evento. A maior parte dos visitantes de Gramado não está nem aí para os filmes… quer apenas usufruir da cidade como um todo, diferente de Tiradentes, que recebe mais pessoas interessadas na programação cinematográfica. Mesmo assim, eu e minha esposa Jani curtimos os atrativos turísticos de lá. Foi a primeira vez na vida que pude sentir o que era “zero grau de temperatura”, sem falar na beleza daquela bruma cobrindo toda a cidade, reduzindo nossa visibilidade a uns dois metros de distância ou menos. Amo cerveja… mas foi bem gostoso tomar um daqueles deliciosos vinhos das “Serras Gaúchas”. Fizemos o tradicional tour por Gramado, indo também até a cidade de Canela, bem perto de lá. Tudo muito bonito. Mas um fato inesperado foi o melhor da nossa viagem… pelo menos para nós dois… talvez também para o meu irmão João e minha cunhada Cláudia. O acesso ao prédio do cinema oficial somente era permitido a famosos e convidados (acho que alguns convites também eram vendidos), sendo a tal “Rua Coberta” pavimentada com um enorme tapete vermelho, nos moldes do “Oscar” americano. Nas laterais da glamourosa rua, muitos bares… sempre disputadíssimos, não sendo nada barato conseguir um assento por lá. Alguns de nossos companheiros de viagem não se importaram em pagar caro por isso, podendo assistir de camarote a passagem dos famosos, que desfilavam distribuindo sorrisos plastificados e muitos acenos… recebendo em troca muitos aplausos e gritinhos frenéticos. Reconheço que uma ponta de inveja amargou um pouco a minha boca, quando caminhávamos do lado de fora, sem a coragem de esquentar o cartão de crédito, mesmo diante de alguns insistentes apelos amigáveis, do tipo: “Ô gente… vem pra cá! Tem uma mesa alí, ó…” Mas apenas devolvíamos, com aquele sorriso amarelo:”Ah…agora não, obrigado, a gente vai chegar mais ali na frente…na volta, a gente senta com vocês…” E fomos lá para o início da rua, bem longe daqueles convites… preferindo tentar a sorte (de graça) onde os artistas entravam… (pelo menos teríamos a vantagem de vê-los primeiro). E foi lá que tudo começou a mudar! Até um certo momento, não tinha visto nenhum artista que eu conhecesse… mas vi pela primeira vez uma pessoa que me chamou a atenção… e eu nunca vou esquecê-la, mesmo sem lembrar de seu rosto. Achei até que era uma pegadinha, quando notei que ela estava oferecendo “passes” para quem quisesse entrar na passarela e, logicamente, adentrar ao “Palácio dos Festivais”. Me aproximei meio sem jeito perto do cara … e saiu direto de minha boca seca uma pergunta misturada com desejo: ”Cê tá…tá… dando convites?” “Sim… quer um?” “Quero, quero… me arruma dois? Pra minha esposa…” E peguei até tremendo os dois ingressos… desconfiando que ainda poderia ser uma brincadeira daquele sujeito bonzinho… que seríamos barrados na entrada, virando alvo de deboches. Perto nós, estavam João e Cláudia, meio distraídos… mas quando contei pra eles, fizeram o mesmo que eu e ganharam as cortesias também. Bem… agora era ver se valiam mesmo, ou se era uma sacanagem daquele estranho caridoso. Caminhamos rumo aos elegantes porteiros… “que pegaram nossos convites, como se fôssemos astros globais… abrindo alas para que pisássemos no tapete da fama!” Claro… que não foi tanto assim! Mas, o que conta é que seguimos pela Rua Coberta, como se fosse uma compensação pela nossa humildade…ou pela nossa falta de grana sobrando. E caminhamos tão depressa, parecendo que ainda não acreditávamos naquela bondade dos céus, temendo até a trágica possibilidade de que surgisse um bando de seguranças em nosso encalço , gritando para que todo mundo ouvisse: ”Epa, vocês quatro aí… podem voltar, engraçadinhos… onde cês pensam que vão?!” Mas olhei para trás… e não vinha ninguém… era mesmo verdade!! Meus Deus… e quando passamos perto das mesas de nossos companheiros de viagem?! Imagino que, naquela hora, o amargor mudou de bocas. Eles pareciam não acreditar no que estavam vendo. “Como cês conseguiram?”… esta pergunta, se não a ouvi, foi porque eu estava muito emocionado e excitado… mas algum deles deva tê-la feito. Não dava para dar muitas explicações naquele momento…”aquilo não era para qualquer um!”. É possível também que o véu da fama começasse a querer nos cobrir… “sendo mais chique e natural manter uma certa distância de nossos fãs imaginários!” Essa ilusão olímpica parece que foi se arrefecendo… dando-nos um frio na barriga… na medida em que caminhávamos para a porta do cinema, temendo agora que fôssemos barrados naquela entrada da glória…mas, que nada, a dádiva divina foi mesmo grande… entramos!! Se bem que tivemos que ficar ali mesmo pelo hall… já que a sala de projeção estava lotada, só podendo entrar lá se saísse alguém (chegamos até a dar uma olhadinha lá dentro… mas de fora parecia mais promissor: certamente os artistas passariam por ali, quando terminasse a sessão… mas também já estávamos no lucro!) Para baixar a tensão daquele acesso mirabolante, que ainda parecia um sonho, procurei logo uma cerveja, e mais outra…e foram mais de dez, com certeza, e nem me importando com preço… tinha que comemorar aquela façanha inesperada! Notava-se no local uma incessante busca por “famosos” para tirar alguma foto, fazer uma selfie… aquela imagem que iria logo para o “Face” ou para “Instagran”… e que ganharia o mundo… (mas, no nosso caso, se chegasse até nossos amigos lá fora… já estaria de bom tamanho!). Me lembro que minha esposa, quando viu saindo um ator negro, ela foi correndo até ele e pediu para serem fotografados, sendo prontamente atendida. Ficou feliz, mesmo descobrindo tratar-se de outra pessoa, menos conhecida que a imaginada por ela (pensava tratar-se do ator “Lásaro Ramos”). Mas dentro em breve, depois de outros menos famosos aparecerem, aquele hall de entrada sofreria um tremendo “abalo sísmico”… quando um gigante de olhos verdes, de quase dois metros, saiu lá dentro e parou pertinho de nós. Era o “meu amigo”, o ator Tiago Lacerda…, confesso… um laço de amizade que não existia até então…tudo bem… e nem depois… Mas quem viu as fotos que nós tiramos com ele, eu e minha esposa, principalmente uma que pegou o exato momento em que a gente se olhava, eu e ele…ele lá encima, olhando pra mim, como se eu fosse um anão perto dele: “ah, acredita sim, que já éramos velhos conhecidos!” E nela parecia até que a gente conversava amenidades… mas, na verdade… apenas eu falava… dizendo que tinha assistido a uma peça dele, “Hamlet”… (confesso… eu apenas tinha lido sobre ela)… “que eu gostara muito”…e ele sorria… dizendo apenas “Obrigado!”… e nada mais… sim, disse apenas esse único vocábulo… mas que foi para mim como um longo texto de Shakespeare. Cheguei a postar essa foto num grupo de WhatsApp… mentindo mais uma vez… dizendo que era o momento em que eu tinha presenteado Tiago com meu livro de poesia, “O Sentido de Tudo”. Alguém desse grupo me perguntou “o que ele disse ao receber o seu livrinho? Completei a mentira com uma dose de humildade, falando que ele apenas agradeceu… “que fora só um momento de sorte de minha parte”. Depois daquele encontro mágico, bebi mais alguma coisa e saímos de lá… como se tivéssemos ganhado algum” Kikito”, o troféu do festival. Voltamos pelo mesmo tapete da rua, com meus olhos ávidos procurando por nossos companheiros de viagem… ou “esperando os derradeiros aplausos de todos”… e nos preparando para uma longa coletiva…mas nos contentamos, ao final, com uma saudação mais comedida: ”Que sorte foi essa, do ceis, hem?!!” E contamos tudo, mesmo o que não perguntaram, até se cansarem de ouvir nossa gloriosa epopeia. Depois que voltamos de Gramado, passei a seguir Tiago Lacerda no seu “Instagran”, curtindo tudo que ele postava… mas, reconheço, ser apenas mais um dentre milhares que o seguem… “não teria como ele me saudar, relembrar nosso encontro no Festival”… entendo isso. Imagina só a ciumeira dos demais viajantes, se essa amizade entre nós fosse realmente pra valer!? E eu poderia até mentir mais, dizendo que ele me segue também… mas eu seria desmascarado de cara pelos invejosos de plantão, sempre conectados em todas as mídias. Mas, não vou negar… não perco a esperança, de qualquer hora, qualquer dia desse, receber aquela notificação tão esperada: ”Tiago Lacerda pede para te seguir.” Sim, sim… por quê não?… tudo pode acontecer… E eu só poderia dizer: “chuuuupa gente… eu e ele, amigos para sempre!”

 

@pedrosantosde

 

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