A Natureza da Razão

A Natureza da Razão

Victor Fernando

Por séculos o zoon logikon se vê em uma briga que nunca terá um fim: a luta da razão. Desde o surgimento da filosofia a razão, bem como a verdade, as ideias e os pensamentos, são alvo de discussão entre os animais racionais. Talvez o embate mais importante seja acerca do seu surgimento: seria a razão uma parte inata do indivíduo ou um fruto da experiência sensível? Em outras palavras, nascemos possuidores da racionalidade ou a adquirimos com as sensações, percepções e experiências? De ambos os lados, intelectuais digladiaram-se nos campos do saber e defenderam suas teorias. Aqui, também, quero defender um dos lados, ou seja, quero aqui defender a teoria do inatismo.
O inatismo é uma longa tradição filosófica que coloca a razão como parte natural e inata do ser humano. Segundo Platão, um dos filósofos dessa corrente, ao voltar do mundo perfeito, onde conhecemos a verdade e a contemplamos, o ser humano busca, através da filosofia, recordar a razão e a verdade que já existem em nós – teoria da reminiscência, que influenciou, posteriormente, filósofos como Santo Agostinho. Nas obras de Platão podemos ver em muitos momentos Sócrates expondo essa verdade. Para isso, ele utiliza a ironia socrática e a maiêutica. O filósofo grego considerava-se um parteiro, assim como sua mãe o era. Porém, ao contrário da sua progenitora, que dava luz às crianças, Sócrates, como costumava dizer, “gerava” as ideias que já estavam no espírito, ou mente, dos indivíduos. Por meio de suas perguntas e da sua ironia, que aqui não se pode confundir com a comumente ironia sarcástica, Sócrates vai brotando do espírito dos cidadãos gregos com quem se depara as ideias. Em Menon, por exemplo, somos levados a um episódio em que Sócrates se encontra com um escravo analfabeto e, desse encontro, ele gera no jovem as ideias matemáticas da geometria, mesmo que o escravo nunca tenha ouvido falar em geometria.
Outro importante filósofo que compartilhava das mesmas opiniões quanto à origem da razão foi René Descartes. Ao contrário do filósofo grego, o francês buscou uma origem cristã para a razão, afirmando que ela seria a marca do Criador nos seres humanos e dividindo as ideias em três: as ideias adventícias, oriundas das experiências podendo ser falsas ou verdadeiras; as ideias fictícias, que são sempre falsas e tem base nas ideias adventícias; e as ideias inatas, que são sempre verdadeiras e racionais.
A ideia de infinito ou os princípios matemáticos, por exemplo, são conhecidos por nós, mesmo nunca tendo nos deparado com tais conceitos. Posso ensinar sobre algarismos a uma criança, mesmo ela nunca tendo parado para pensar sobre a ideia de 1, 2, 3 ou 4. Da mesma forma, essa criança concebe a ideia de um Deus único, onipotente, onisciente e onipresente, mesmo sem ter visto algo parecido. Da mesma forma sabe que esse Ser é poderoso e pode transformar água em vinho, mesmo sendo impossível fazer isso. Aqui, cai por terra o que os filósofos do empirismo afirmam. A empeiria afirma que as ideias são originadas das experiências sensíveis e das sensações habituais, porém, como saberei a ideia de quinhentos quilômetros, se nunca vi tal distância? Como podemos adorar um Ser Suprassensível, criador dos céus de da terra, maestro do universo, sem nunca termos o visto? Essa, então … é uma ideia inata, nascemos com ela, tal como a razão, que é o caminho para encontrarmos a verdade.

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