Vento
“Vento”
Jaque Machado
Te fiz uma poesia um dia desses.
Joguei teus cabelos na cara, desalinhados, bem assim como te acho sexy.
Sussurrei por todo teu corpo , por cima das tuas roupas e te atravessei enquanto passavas. Ficou em mim teu cheiro, teu peso sobre mim, ficou em mim tua presença enquanto me ia para todos os lugares.
Te busquei e não pude entrar nas construções onde te encontravas. Fechavas as portas, Encastelada. Isolada. Fazia tempo que não te tocava e senti doer e se espalhar por toda minha ansiedade a saudade de ti.
Esperei saíres às ruas mas teu olhar era triste. Quando te toquei e levantei teu cabelo lá nas alturas, tu não sorriu, olhou para baixo, tinhas uma lágrima tímida no canto do olho direito. E não me recebestes, não me abraçastes, não comemorastes a minha chegada como costumavas fazer. Fostes no isolamento que carregavas contigo, evitando meu toque por todo caminho. Puxastes o casaco e aninhastes teus braços contra o corpo à procura de abrigo. Te feri, mas queria te tocar. Te fazer sentir livre, mas te tornei arredia. Queria levantar tuas roupas numa esquina qualquer, mas não pude porque me evitavas e já não estávamos mais confortáveis um junto do outro. Então parei, deixei tudo calmo, deixei as folhas na sarjeta, as árvores quietas, os pássaros planando, não assobiei nas frestas e te vi desaparecer pelas ruas e não pude sequer farejar teu cheiro.”
@jaquemachadoescritora