Trabalho de Parto
TRABALHO DE PARTO
Pedro Santos Oliveira
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De repente,
uma frase começa
a sair de minha boca.
Fiquei sem entender,
pois, eu não pensava em nada.
Meus pensamentos,
aprisionados dentro de minha cabeça,
se debatiam contra minhas paredes cerebrais,
como um cão aprisionado numa cela escura.
Mas eis que uma palavra,
ainda mal escrita,
exibe uma sonoridade imprecisa,
tentando ecoar do lado de fora.
Letrinhas entrelaçadas,
num afã etimológico de doer o coração.
Oh, meu Deus,
eu mal podia crer,
diante de mim,
um poema vindo ao mundo!
Eu nem sentira os trabalhos de parto,
nem sabia que uma gravidez
se escondia no útero de minha alma.
E aquele nascimento,
talvez prematuro,
de um ser, talvez sem formação completa,
seguindo em frente,
como de uma mãe que dá a luz,
num beco escuro,
sem ninguém por perto!
E agora já se podia ver
os primeiros versos agrupando-se
no corpo de uma pequena estrofe,
ainda presa a um cordão umbilical,
tentando rimar com o mundo exterior,
aqui, onde muitas vezes,
um poema como este chega, se perde e se vai,
sem nunca ter sido lido, pobrezinho!
E então,
no ritmo daquelas contrações de vogais e consoantes,
outra parte poética daquela criaturinha, tão frágil,
vem logo a seguir,
dando forma ao seu corpo sem métrica,
e mais uma e mais outra
e, finalmente,
um poeminha inteiro
já se esperneia e chora,
querendo um seio qualquer
de sua língua mater .
Mas, enfim, se cala, faminto,
tendo como manto
apenas uma folha de papel
amassada e embolada,
numa lata de lixo.
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@opedrosantosde