Sorôco, sua Mãe, sua Filha
Figura: Batalhão sagrado de Tebas
Sorôco, sua Mãe, sua Filha
Raul Tartarotti
Nossa responsabilidade social e familiar, se mostra exigente sempre que respiramos, porque muitos aguardam a presença amorosa e atenciosa, junto a seus lamentos e fraquezas mundanas. Esse pensamento tão próprio de um significado profundo de amor a vida, é também voltado àquele que amamos, e que está bem ao nosso lado, e se enche de força e afeto quando o abraço afaga sua alma carente.
Foi esse o espírito que motivou o comandante Górgidas, em 379 a.C., ao selecionar 150 casais homossexuais masculinos, para criar o batalhão sagrado de elite do exército de tebas. Essa ideia de unir forças, surgiu da percepção do quanto os homens poderiam lutar bem mais, estando ao lado de quem amam, o qual protegerá com todas suas forças, superando qualquer inimigo, que conta somente com uma espada pra andar de mãos dadas. Segundo o filósofo grego Plutarco, no livro A Vida de Pelópidas, “um grupo cimentado pela amizade baseada no amor, é inquebrável e invencível, já que os amantes, envergonhados de serem fracos à vista de seus amados, e os amados diante de seus amantes, de bom grado se arriscam para o alívio um do outro”. É o exercício do amor. A homenagem eterna a esses guerreiros está no antigo Tumulus junto ao monumento do Leão de Queroneia, onde os ossos de todos eles, mortos em batalha, estão enterrados lado a lado.
Guimarães Rosa abordou no conto “Sorôco, sua Mãe, sua Filha”, a questão existencial e social da compaixão, e do papel central de cuidador de seus dependentes doentes mentais. Como não possuímos a eternidade em vida, o exercício do amor e da empatia é o que melhor deixaremos como brilho de nossa existência. Conforme o curso da doença os pacientes não voltarão ao seio familiar, nunca mais, e nesse triste caminho, resta a lembrança do que pode ser realizado até o abandono do abraço.
Nosso avatar ou clone não estão disponíveis ainda, ao menos nesse plano espiritual que navegamos, mas se você tiver a chance de ultrapassar para outras possibilidades de vidas, não pense que o amor será carta fora daquele novo baralho, provavelmente você terá que desenvolver sua emoção virtual ou plástica, mas não fugirá de praticar o exercício do toque e do abraço humano.
A fuga das relações entre os indivíduos, leva você a um mal estar em relação a vida. Sua ausência de objetivos e motivações, o tornam irracional, e você passa ser conturbado por diferentes forças que invadem sua face, e se vê imerso em uma triste guerra interna. Não se deixe levar pela falta de sentido nas trocas interpessoais, ou correrá o risco de sentir uma “Náusea” ao caminhar, como escreveu Jean Paul Sartre no romance que leva esse nome. Em forma de um diário do personagem Antoine Roquetin, relatou uma vida com total falta de sentido. Muitas artes sempre seguem a um fim, a medicina tem como finalidade a saúde, o direito objetiva a justiça, e o livro existe pra ensinar. E Você, já encontrou a sua finalidade nesse universo de pequenos atos de empatia?
@raultarr