SENSUALIZOU NA INTERNET

SENSUALIZOU NA INTERNET

Antônio Pimentel

A atriz voltou da Europa, postou no seu íntimo Face uma foto de biquíni, e sensualizou. A modelo divulgou uma foto na praia, espichada na areia, e também sensualizou. A cantora, deitada numa cama, lânguida, fez biquinho, registrou e compartilhou sua performance no chegadíssimo Insta. Pronto, sensualizou! Todo dia leio notícia de alguém sensualizando na internet. Acho tudo estranho, inclusive o verbo. Vivemos uma onda de “sensualidade” medida, calculada e produzida para as redes sociais. Tem gente que “causa” demais e faz “cair” a internet. Desabamentos estéticos.

Fui ao dicionário e o verbo sensualizar está lá, firme e forte: “tornar ou tornar-se sensual; estimular os prazeres dos sentidos”. Será que essas postagens sensualistas estimulam prazeres e sentidos de alguém? Será que a sensualidade caminha para se tornar cada vez mais pública, programada e mercadológica? Creio que não, mas o terreno é movediço. Dois riscos me incomodam: a banalização e a padronização da sensualidade. Atrizes, cantoras e modelos puxam a fila de uma toada expositiva, e muita gente vai atrás. As redes sociais, numa prática narcisista e sem a mediação do bom senso, estão virando vitrines para esforços variados de sensualização, alguns com resultados bizarros.

Às vezes, a sensualidade nas redes sociais traz problemas. Li a história da bombeira Presley, lá de Montana, EUA. Ela trabalhava como paramédica na corporação local e era também influenciadora fitness, uma epidemia mundial. A jovem combatente do fogo compartilhava seus treinos e sensualizava. Foi acusada de exagero na sensualidade e advertida. Não emendou. Fez um ensaio fotográfico com o mote “Combata o fogo como uma garota”. Acabou demitida e brigando na Justiça. Lamento a reportagem não mostrar as fotos da animada Presley.

Sou um sujeito reservado e ranzinza. Meu olhar traz limitações. A sensualidade, no meu modo de ver e sentir, vive no detalhe, é coisa sutil. Não é esse show de exposições calculadas. Digo sempre que admiro nas mulheres o jeito. Pode parecer vago. Talvez seja. Mas vivo bem com essa maneira de olhar e ver mulheres bonitas e sensuais. Um sorriso, o andar, pés bem calçados ou descalços, o jeito de sentar, mãos bonitas, bom humor, bunda com molejo, um olhar. Lembro do finado Jô Soares e seu olhar atento para pés femininos bem vestidos. A sensualidade está nesses e outros detalhes.
As sensualidades feminina e masculina merecem cuidado, carinho e observação. A sensualidade de cada um é pessoal, intransferível, íntima. O ato de “sensualizar na internet” é algo espetaculoso e mercantil. Intimidade é para os íntimos, já foi escrito. Sensualidade não é só para os íntimos, mas é íntima. Tento explicar. Atrizes e atores, no exercício de suas artes, colocam seus sentidos a serviço de personagens e tramas. Cantoras e cantores fazem o mesmo para interpretar. A publicidade segue, muitas vezes, esse caminho. Esses profissionais trabalham com a sensualidade, usam a própria sensualidade para dar vida a personagens, mas ela segue íntima. É coisa do mundo particular.

Vi recentemente uma foto antiga de Sophia Loren. Foco no seu lindo rosto. Ela pende a cabeça suavemente para o lado, seus lábios ficam destacados, olhos fechados, discreto pescoço de Modigliani, um conjunto que transborda sensualidade. Não aparecem as belas pernas e o admirado colo da atriz. Não é preciso.


Penso que a foto de Sophia Loren não faria sucesso na internet. Não sensualizaria. Um sinal de penúria estética, de esmaecimento dos sentidos. Perda de vigor e sensibilidade.

21/05/23

@antoniopimentelbh

29070cookie-checkSENSUALIZOU NA INTERNET

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.