Recife Fala (Vale)
Recife Fala (Vale)
Geórgia Alves
B
Recife é uma cidade que fala o tempo todo com você. Todas as cidades estão sempre a dizer alguma coisa. Sobretudo as metrópoles com seus engarrafamentos e túneis. Suas grandes avenidas. Mas, imagine, a cidade que tomou para si a maior avenida em linha reta do mundo! Onde os escravos de Jó jogavam Caxangá, e assim foi. Assim. É bem bem assim que as águas dos rios Capibaribe e Beberibe solfejam cantigas antigas. Em agosto de 1949, Aberta Camus, escritor francoargelino, ouviu as canções dos pretos no Pátio do Terço. Recife é tão assim, que mesmo hospedado no Hotel Central, Camus comeu Recife pelas beiradas…
Recife da tradição, do Cais da Lingueta, de vez em quando, fala comigo. Da Livraria mais antiga. Dos revolucionários, do sangue escorrido em lutas estudantis e das veias puras de padre Henrique pelos degraus da casa de Tobias Barreto. Ar Recife mesmo é quando o galo canta. E como o galo canta na cidade mais festeira do mundo,mais cheia de subjetividades e fraternidades lúdicas numa manhã de sábado de Zé Pereira.
Do cuscuz seco sem e com ovo. Até a umidade, o sal da praia de Boa viagem, os poetas das ruas e calçadas pintadas. Dos muros. Se for Recife, logo, escreveram no muro. Seja para alguém aquilo que nunca foram para você. Sei bem quem vive para fazer da Recife que bem conheço, uma cidade que bem fala, que bem diz frases pontuadas, ternas como as pedras do maior aglomerado de corais em linha reta do mundo. Quem bem diz a espalhar poesia pelo Recife que fala. Mas eu mesma não digo. Nem que me matem. Isto é segredo.
@georgia.alves1
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