Quando tudo dá errado

Quando tudo dá errado

Eugênia Câmara

Dia desses, encontrei um amigo o qual conheci há 40. Conversa vai, conversa vem, convidou-me para jantar em sua casa, dizendo que fazia um prato com camarão que era excepcional e que eu comeria de joelhos. Convite aceito. Primeiro porque adoro camarão e, segundo a companhia parecia, aparentemente, agradável.

No dia e hora combinados, bati na porta de sua casa, não sem antes levar uma sacola com um vinho português para tomarmos na janta.

Mesa posta com maior esmero, flores, porcelana fina e taças de cristal. Uma jarra linda com água saborisada e guardanapos coloridos que quebraram a rigidez da louça de família.

Até aqui tudo perfeito. “Perfeito demais”, pensei. E então, de repente, tudo começou a desandar!

Levou-me até a cozinha dizendo que precisava finalizar o jantar cozinhando o arroz. Fez questão de me servir de seu vinho favorito. Provei. Não sabia se estava tomando vinagre ou um vinho muito ruim. Tentei outro gole. A mesma coisa. Delicadamente coloquei a taça na mesa e fingi esquecer-me.

“Se esse é o gosto dele atual para vinho, como estará o resto?” – pensei.

Percebendo que não estava bebendo, ofereceu-me uma cachaça. “Jesus Amado, a coisa só piora”, pensei novamente.

Então, sutilmente, sugeri que abríssemos o vinho português, uma vez que ele havia dito, en passant, que apreciava os portugueses.

Nesse momento tive esperança que a história melhorasse. Mas ela resolveu fugir antes que eu fosse junto.

Comida pronta, ele coloca o prato de arroz com camarão na mesa. Quando olho para aquilo não sabia se ria ou chorava. Parecia uma sopa de arroz com meia dúzia de camarões a se esbaldarem num oceano empapado.

Serviu-me de sua suprema iguaria. Nesse momento rezei para que, pelo menos, fosse saboroso. Ledo engano. Sem sal, sem tempero, sem nada. Nada tinha gosto de nada. Nem os pobres dos camarões tinham sabor de camarão.

Não contente com todo esse desastre, a conversa direcionou-se para sua ex-esposa. Tentei, diversas vezes, mudar o foco do assunto até que desisti. Um jantar a três. Que maravilha! Era o que me faltava!

Juro, de repente comecei a me perguntar o que estava fazendo ali. Fiquei me imaginando deitada na minha cama lendo meu livro, que havia parado numa parte ótima, ou assistindo o seriado policial no qual estava curiosa para saber quem era o assassino. Eu precisava sair dali. E rápido….

Assim que o jantar terminou fui embora com a certeza de que, definitivamente, tinha feito uma péssima escolha para minha noite de sexta-feira. Salve o meu pijama!

@mecalves

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