Quando estaremos aptos a fazer por merecer artista como Marianne
Quando estaremos aptos a fazer por merecer artista como Marianne
Por Geórgia Alves
Marie Anne Antoinette Hélène Peretti teve trajetória superiormente bem-sucedida para artista do gênero feminino. Seu inestimável legado não se resume – e nenhuma palavra aqui dará conta soando simplesmente palavra – aos “vitrais maravilhosos” que criou para a Catedral de Brasília” e a “um excepcional talento”, como afirmou Oscar Niemeyer. Oscar convidou Marianne e ela foi a única mulher a compor o grupo de artistas responsáveis na construção do conjunto de edificações que simbolizam a capital brasileira diante dos olhos do mundo.
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Bem antes a jovem já havia estudado e realizado individuais na França e fora descoberta por Niemeyer graças a Janete Costa. A arquiteta pernambucana já havia reconhecido a vocação de Marianne – assim ficou sua assinatura artística – para criação e a, digamos, perturbação de dada ordem vigente que em nada significa, mesmo sob arcadas de academias, estar em sintonia com o essencial da Arte. Marianne tem no currículo episódios de expulsões no Lycée Moliére e Lycée Victor Duruy por fugir das aulas “para pintar”.
Também nem sempre o país reconheceu sua excepcionalidade, digo isso dado o triste episódio envolvendo o trabalho intitulado Alumbramento, no ignóbil ano de 1990 – do qual não se pode dizer que completamente nos curamos – quando o painel da artista executado em perfis metálicos e vidros em face fosca para o prédio o salão branco do Senado fora acintosamente deixado por dez anos em um porão.
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Refinada composição feita de inovadora técnica tridimensional que acolhe duzentas peças produzidas no ano de 1978 em Stained glass com dez metros de extensão e quase três metros de altura. Suas formas curvas remetem a pássaros e a sugestão de outras formas aladas. O caso foi denunciado pela Imprensa e levou uma empresa de Recife a propor a recuperação diante da curadoria cultural a fins de restauração e reinstalação.
À época, diante da exposição A Arte Monumental de Marianne Peretti promovida no Museu Nacional da República, exposição de trinta peças da artista, em Brasília, diante desse acordo a circunstância terminou por permitir a reinauguração e reintegração ao local de origem em outro cenário político, no ano de 2016. Não haveria sequer como listar aqui a inúmeras e inestimáveis contribuições de Peretti para a Arte Brasileira. Nem seria a minha intenção substituir a grandeza de seu trabalho por definições ou títulos das obras.
Talvez a própria essencialidade da vida de Marianne Peretti traduza parte do que significa tê-la morando em Olinda e no Brasil da década de 50 em diante. Estudou pintura e desenho da École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs, sendo a mais jovem da turma com apenas 15 anos. Estudou em Montparnasse, na Académie de La Grande Chaumiére, tendo sido aluna de Édouard Goerg e Françoise Desnoyer, expondo pela primeira vez numa instalação individual na Gallerie Mirador.
Filha da modelo de origem francesa Antoinette Louise Clotilde Ruffier e do historiador pernambucano João de Medeiros Peretti no dia 13 de dezembro de 1927. Faleceu no dia 25 de abril de 2022 no Hospital Português do Recife. Envio daqui meus sinceros sentimentos à filha Isabella Peretti, com que esteve no Congresso Nacional revisitando suas obras. As cidades do Rio de Janeiro, Turim, na Itália e Le Havre – na Maison de La Culture – na França tem obras de Marie Anne Peretti. O corpo é sepultado neste sábado, 30 de abril, no Cemitério do Campo da Esperança em Brasília. A artista por muito tempo nos alumbrará transportando a um outro mundo, da precisão e delicadeza, da alma. Iluminando novos devaneios.
@georgia.alves1