Peggy
Peggy
Geórgia Alves
Cada vez descubro no amor uma força maior que qualquer teoria do campo da física pode explicar. Assistindo recentemente a um documentário sobre a vida e a obra do amado Vicent Van Gogh, descobri que sua paixão pela Arte levou uma colecionadora de seus desenhos e telas a construir o maior Museu para abrigar o maior acervo de seu trabalho em meio a uma poderosa floresta e ares da mesma viva Natureza. Não são poucas as histórias de amor que ultrapassam o tempo que experimentamos. Está semana tive a grata supresa de ouvir de uma de minhas estudantes suas impressões de que me obra também se relaciona com o tempo e sobretudo com o espaço. Para Fayga Ostrower, mesmo a Arte mais racional é intuitiva. E ocupação do espaço a tradução mais simples e física no campo do Real, para o que entendemos de construção artística.
Certamente é o que fazemos, seja nas Artes Visuais e na Arquitetura, no desenvolvimento de um desenho urbanístico, quando estruturamos habitar um lugar onde se respire , da forma mais livre e espontânea, a experiência provocada pela Arte. Estamos , nós artistas, sempre a nós questionar sobre qual a melhor maneira de atravessar os anos, o tempo que nós é oferecido. Vistas em perspectiva, a vida e a evolução da obra de uma artista como Van Gogh se misturaram a tal ponto que passam a ser indissociáveis de suas escolhas técnicas. É neste ponto que a Teoria Literária e a Crítica no campo da História da Arte resolveram pensar projetos artísticos no campo de escolhas filosóficas firmes a tal ponto de despertarem juízos e com eles uma espécie de sinergia a uma pergunta na minha opinião, um tanto menos importante nesta “Seara” que a do “para que serve”? Muitos artistas foram radicais ao enfrentar, em desafogo, o crescente Estado de uma sociedade cada vez mais totalitária e utilitária. E basta voltar um pouco no tempo para ver como nós seres humanos somos capazes de sequer merecermos a comparação com os animais que injustamente apelidamos de “burros”. Nossa cegueira chega a tal ponto que a ignorância e o ódio são e foram capazes, não faz muito tempo, de duvidar da ciência e das narrativas mais coerentes da história do mundo. A história de Peggy Guggenheim nos arremessa adiante. O que pode o ser humano diante do trágico? Peggy certamente não soube pertencer à “realeza” dos Guggenheims, depois da morte do pai. Precisou ser mãe de si mesma e inventar um lugar com o qual, finalmente, se identificasse ao ponto de, por insistência, a ele pertencer. Este vazio em se tratando dos pertencimentos é tão grave, assunto tão sério que nem o riso costuma resolver. Nem a rebeldia. Há um documentário sobre todo este movimento de Peggy ao redor da Arte, dos artistas e das coleções que legou a museus de todo o mundo. O que não sei se de todo, em seus depoimentos, alguns mais outros menos justos, pode traduzir o que a inquietante sensação de estar solto dos laços afetivos no mundo. Por isso, vim falar a favor do trabalho de uma YouTuber, Annie Drew. Entre pesquisar sobre a vida e a atuação como ativista e colecionadora de obras de Arte, há uma linha partida na vida de Peggy que talvez a sensibilidade de Drew reconstrua. Quem sabe como localizar a fissura do que era estrada e, de repente, vira labirinto? Talvez um olhar distante e generoso com as singularidades humanas. Talvez seja preciso tão pouco para alinhavar um tecido que se rompeu como o movimento persistente das mãos e dedos segurando uma agulha num desgracioso ballet. Aquele gesto despretensioso capaz de juntar as peças soltas de um quebra-cabeça. Talvez porque perdemos coisas no caminho, como se perdeu o livro dos gigantes porque todos estavam muito ocupados com a fala de profetas. Talvez haja mais simplicidade no que não vemos do que naquilo que está tão à mostra. Como nós prova um certo Allan Põe, em seu texto “a carta”. Sei que tenho reproduzido meus próprios pensamentos como uma mãe pelicano que tira das tripas alimento dos filhos. Mas o que é possível fazer mais para que eu mesma mereça este diálogo? Ou não acontecerá comigo? Tenho enviado cartas em garrafas arremessadas ao mar e não vejo chegarem ao destino. De onde se pode deduzir apenas que não há mais o que fazer para merecer um por cento da atenção de meu próprio povo se não andar pelas ruas usando um macacão cor-de-rosa.
@georgia.alves1