Os doces resquícios do azedo do sal

Figura ( Max Ernest)

Os doces resquícios do azedo do sal

Pedro Albuquerque

O peixe perdido

O quintal alegre

As casas curiosas

Um novo velho sinal

O tédio que vem das rachaduras por onde entra a luz

A tristeza de um afilhado ao ver todas as cores no nariz do padrinho

Ah! Aqueles Tricomas brilhantes no suco verde púrpura

A mente distorcida, cheia de vetores descompassados,

Sorridentes

A fraternidade

Aristotelia flamejante e jubilosa

No jogo de cinco andares

Signos que entram sonolentos e se escondem em segmentos de reta obstinadamente inclinados

À espera do milagre

Afinal, não tem nada para fazer, né?

No subterfúgio do não dito,

Brilham os sinos que tocam longe os sons de tudo o que você podia ser

A loira e o cachorro,

O Lorca na mesa

A seiva e o mel!

O riacho de barro

Que vai indo, obliterando-se aos poucos

Sem ninguém ver.

Apenas as ondas do mar, bravejando excitadas e frias

Brancas e espumosas

Sozinhas

 Salgadas

Arrebatando as pedras

Sem ninguém ver…

Sem ninguém ver!….

Sem ninguém ver!!…..

Como aqueles desenhos temáticos das cartelas Hoffman que vão gradativamente derretendo no músculo glossal

No velho oeste de um país latino, num vinhedo

O silêncio parcialmente confidente de um ventrículo leve,

Bombeando pelas artérias, o oxigênio amorfo e tartufo de uma lebre que vai embora escorregando, correndo por entre as sentinelas do coração

Deixando pegadas roxas que desaparecem na magia do ar,

Do tempo.

E como é que foi mesmo o que disse o velho ultrajantemente elegante?

 “E você quer viajar com ela

E você quer viajar sem pensar

E você sabe que ela vai confiar em você

Pois você tocou o corpo perfeito dela

Com sua mente”.

Para Leonard Cohen, o Monte Everest.

 

@petrussanctorum

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