Os Dedos Das Santas Costumam Faiscar
Por Geórgia Alves
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Nesta segunda parte da entrevista sobre o lançamento do livro “os dedos das santas costumam faiscar”, da editora Patuá, Conceição Rodrigues conta em detalhes a forma e o processo de elaboração do livro, em desatos cruciais para compreender a narrativa.

A Poesia mediada por valores imediatamente reconhecíveis pelas densidades e dobras do fazer poético. Suas partes, inquebráveis. Os versos nos colocam inteira e faiscantemente diante da massa que brota dos dedos santos da poeta cheia de revolta, rebeldia, inquietação.

Conceição, como ler seu livro? Fale-nos da forma.
Conceição Rodrigues – Quatro desatos compõe o livro, o primeiro desato se chama – a verdade obscena – é possível que todos sofram, até deus… O livro começa do macro, fazendo reflexões sobre a sociedade, a hipocrisia, a religião, aos nossos costumes, à violência, e tudo mais, não é?
Então, vamos lá. Este segundo desato?

Conceição Rodrigues – “mater dolorosa sereníssima, o corpo é um gozo distante” quer traduzir as vontades e ds desejos que a gente tem, mas que de alguma maneira não consegue realizar, não é? Ele é uma reflexão sobre o fracasso, o fracasso nosso de cada dia.
(Continua)
Aí vem o desato terceiro – os delicados preferem morrer ou o cabo tenso de equilíbrio – que fala da morte, morte matada, morte morrida, morte matada, morte provocada, o tema aqui é morte, fala dessa agonia da gente entre a vida e a morte.
(Conclui)
E o desato no quarto – uma alegria torturante – os dedos das santas costumam faiscar – que dá nome ao livro é um momento de exultação poética pela mão daquilo que venha a ser sagrado. Daquilo que possa consagrar.
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Geórgia Alves – Deixa eu fazer um parêntese da palavra “consagração”, substância fêmea, substantivo feminino, do latim “sagrar”, unir, tornar sagrado, dar à ação de unir a deus, um rei ou rainha, mulher ou homem do povo, sagrado santo ou santa é entregue a deus. 
Conceição Rodrigues – É o fechamento da obra com uma pitada (tu sabe, né?) de rebeldia, de revolta, etc.
Geórgia Alves – E sobre a linguagem utilizada no livro?
Conceição Rodrigues – O livro está todo sem vírgula, com exceção de um poema, nem é um poema, um verso, o fato do livro não ter vírgula é para causar no leitor essa tensão, essa leitura meio sem pausa, e dar ao leitor a liberdade ao leitor criar sua pausa, escolher o momento em que vai respirar.
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Geórgia Alves – Há momentos de deixar sem fôlego…
Conceição Rodrigues – Há o trechinho com as vírgulas que é para entregar ao leitor essa sensação de sufocamento.
Geórgia Alves – Como estão divididos seus desatos?
Conceição Rodrigues – O livro começa refletindo o mundo, vai do macro, passa pela questão do gozo, que a mater dolorosa sereníssima – o corpo é um gozo distantes; os delicados preferem morrer vai fechando mais a forma – e ao final vai fazendo essa reflexão quase pessoal e personalíssima.
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Geórgia Alves – Uma das epígrafes trata dessa questão de seguir com o rosto nu, sem máscaras, coisa que Nelson Rodrigues, dramaturgo mais essencial para compreender dos temas que trazes. “mostrar o próprio rosto sim, é a grande imoralidade”. Pode-se dizer que o livro parta do corpo, humano, ao social e consequentemente retorna ao físico ou metafísico? Ao existir da autora… Parte da revolta à poesia em preferências artísticas, de certa forma?
Conceição Rodrigues – O livro vai das expressões em latim e francês, ao Heavy Metal, com citações de músicas do grupo de rock “ACDC”. Isso faz dele um pouco mais pop e moderno, carrega a revolta e a rebeldia presentificada com a vida enquanto estado, metal pesado.
Conclusão:
O Livro “os dedos das santas costumam faiscar” será publicado pela Editora Patuá. Conceição Rodrigues já recebeu prêmio por outras obras. Nascida numa cidade conhecida como Portal do Sertão: Arcoverde, adotou Recife para a vida adulta. É graduada em Letras e com Especialização em Literatura. Leciona na rede pública e particular de ensino. Menção honrosa no III Prêmio Pernambuco de Literatura com o livro de contos “Corda para nós”; e no IV Prêmio Pernambuco de Literatura, pelo romance “323”. Foi assistente de Raimundo Carrero na Oficina de Criação Literária-UBE. Autora e organizadora de várias coletâneas e Antologias. Coordena produção textual gêneros e áreas diversas. Depois de “Molhada até os ossos”, insere seu nome na Poesia Brasileira pelo rigor da técnica e a ousadia da criação.
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@georgia.alves1
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