O fim dos tempos

O fim dos tempos 

Victor Fernando

 

Queria muito presentear vocês com algo feliz nesse Natal. Contudo, o que preparei não foi uma mensagem feliz, ornada de luzes de esperança e de salvação. Não. Serei direto, pois tenho pressa e igualmente vocês, acredito eu. O fim está próximo! Não o fim bíblico, onde o messias virá e nos salvará do reino do terror que se instaurará na terra. Na verdade, o mais apropriado a se dizer é o seguinte: “O fim já está instaurado, e não há salvador ou salvadora para as criaturas que aqui habitam.” Basta ouvir e ler os jornais – não é preciso tanto, basta prestar atenção no que diz nossos irmãos- para saber o inferno em que nos conduzimos, lentamente, mas a passos largos. Li um autor escrever que o local em que nos metemos é um hospício. Discordo. Isso está longe de um hospício. Faltam-me palavras para descrever o estado lamentável que nos encontramos, mas estou ciente que isto está longe de um local de loucos, se bem que não passamos disso.

As provas estão em todos os lados: o desmatamento cavalar; o avanço desenfreado da tecnologia, substituindo e tornando mais preguiçoso o ser humano; a literatura e o cinema preguiçosos, com suas fórmulas para ganhar o máximo de dinheiro que os bolsos possam carregar; a música, débil, feia e vil; a crença em ideias tornando-se devotismo sem rédeas e com isso a flagelação de uns contra os outros em favor do que defendem. “Está proibido pensar diferente de mim”, é o que pensam, “quem pensar diferente de mim está errado e merecerá a Bastilha, pois meu deus não será tratado de outra forma senão devotamente. Não é o que está escrito? Levará a palavra a todos os continentes.” A mente humana está entre as moscas, entre a podridão. Somos estranhos aos nossos semelhantes, somos hostis com nossos irmãos. “Amo a humanidade”, é o que diz o bom samaritano, mas quando menos se vê, martirizam o indivíduo, seu próximo, sem o mínimo de piedade. “Não, isso não é da minha conta. Para os diabos com seus problemas. Não me importo que seja meu amigo e não me importo a fraqueza que nos abate. Aparta-te de mim!”

O capitalismo, outro mal que nos abate, precisa de devotos. Para isso, cria os mais diversos meios para não só nos arrancar dinheiro, mas principalmente para espulgar o humano que habita em nós. Ficamos, cada dia mais, fora de nós mesmos. Esquecemo-nos do tesouro que há em nós mesmos. Colocam em nossas cabeças o que quer dizer ter uma vida intensa e feliz. Viver intensamente não é perder o fôlego com dinheiro, carros, com superficialidades que em nada alimentam a alma. O significado de viver intensamente é ser, como Cioran nos conta, é sentir-se cheio, não no sentido do orgulho ou arrogância, mas da riqueza, a ponto de sentir que vai morrer de viver. Essa pretensa boa vida que o capitalismo prega é uma mentira.

É por essas, e outras razões, que minha sentença é clara: é o fim dos tempos. Minha cabeça jovem, de 19 anos, pensa que temos menos de 50 anos mais pela frente, talvez a humanidade acabe antes disso.

@ich.binvic

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