O Escorpião
O ESCORPIÃO
Jorge Lúcio de Campos
1
Um homem se deitara no chão e remexia em um buraco. Outro homem que por ali passava, intrigado, perguntou-lhe:
− O que está fazendo?
O primeiro homem respondeu:
− Um escorpião ferido caiu nesse buraco e morrerá se eu não tirá-lo. O problema é que, toda vez que me aproximo, ele tenta me ferroar.
O segundo, então, perguntou:
− Por que você não se vai e o deixa aí para morrer?
O primeiro, então, respondeu:
− Porque ferroar-me é da natureza dele e ajudá-lo é de minha natureza.
2
Um homem se deitara no chão e remexia em um buraco. Outro homem que por ali passava, intrigado, perguntou-lhe:
− O que está fazendo?
O primeiro homem respondeu:
− Um escorpião ferido caiu nesse buraco e, quando tentei tirá-lo, o infeliz quase me ferroou. Por isso, irei matá-lo com uma pedra.
O segundo, então, perguntou:
− Por que você não se vai e o deixa aí para morrer?
O primeiro, então, respondeu:
− Porque vingar-me dele é de minha natureza.
3
Um homem se deitara no chão e remexia em um buraco. Outro homem que por ali passava, intrigado, perguntou-lhe:
− O que está fazendo?
O primeiro homem respondeu:
− Um escorpião ferido caiu nesse buraco e eu o estou matando, aos poucos, com uma pedra.
O segundo, então, perguntou:
− Mas, por quê?
O primeiro, então, respondeu:
− Porque essa é minha natureza. Não há outra coisa a fazer.
Jorge Lucio de Campos é professor da UERJ, ensaísta e poeta. Publicou as coletâneas Arcangelo (1991), Belveder (1993), A Dor da Linguagem (1996), À Maneira Negra (1997) e Prática do Azul (2012), entre outras.
.@jorgeluciodecampos
O autor desse conto/fábula apresenta duas situações para o final da história enfocando a reação humana, que na verdade, não diferencia muito da reação do escorpião. Natureza humana.