O búfalo branco de Tereza

O búfalo branco de Tereza

Por Geórgia Alves

Tereza Costa Rêgo é indubitavelmente a maior Modernista das Artes Plásticas Brasileiras de origem pernambucana. Não sou quem diz, mas a voz da crítica local, da contemporaneidade. Se a crítica internacional – ou nacional – não reparou é porque valores intrínsecos à obra de Tereza foram radicalmente abalados nos últimos anos. A liberdade, a solidariedade, a boa convivência com a solidão e, sobretudo, fazer da dor grande acontecimento artístico, de modo a, não apenas promover a catarse, como libertar a alma das pequenezas mundanas.

Transcender de corpo. Levitar sobre a fartura desta e outra mesa, da cozinha ou da tensão entre os homens de poder. Tereza pintava diante da janela, mirando a mais bela situação geográfica que já ocorreu por estas cercanias transatlânticas. Olinda. Tereza era bela, espontânea, sua presença vinha de corpo e alma, “uma força da Natureza”. Não endosso as palavras da neta Joana ao acaso, pragmática e jornalista como eu. Enquanto professora de Arte de escola técnica e pública vejo que trazer o universo de Tereza para a convivência dos jovens, dos dias de hoje, importa tanto quanto ter acesso a livros bons.

Não se aprende história nos livros de História. Não apenas. Ali, algo fixa.

Se fixa uma ideia sobre o que está impresso ali de maneira mais ou menos bem intencionada e elaborada. Ficamos com impressões de densidade em geral plana. Tereza estudou História. E pintava. É outra experiência, mais que a verdade, ficar diante de um quadro de Tereza. Trouxe para casa, e todo mundo, cada um e cada uma que prestigiou a vernissage de “Viva Tereza, Tereza Viva” o fez, um touro ou búfalo branco envolvendo uma de suas Terezas.

Como não ver que o universo conversa com a gente nestas horas. O que me deu de presente foi a força deste touro branco, desta outra pele que Tereza me revestiu na experiência de estar, novamente, em contato com sua obra. Tereza fez ilustrações para o livro “As filhas de Lilith” (Calibán, 2009). Eu as trouxe para mim.

Em minha humilde residência tenho agora mais imagens de Tereza do que poderia aspirar. Seus painéis gigantes pude ver de novo e demoradamente, e lá voltarei, onde está ao alcance dos olhos também mais humildes que quiserem vê-las. Ficar diante de tais obras, no Museu do Estado. Com pesar testemunho fotógrafa distraída, alheia às sensações despertas por Tereza, passar sobre o cimento com imagens dos quadros projetadas. Era somente a imagem? … Somente imagem dos quadros de Tereza? Ou por que nossos jovens não pressentem valor da aura? Querem saber sobre templos e igrejas. Ou nada disso. Isso, bem, isso não é nada Tereza.

@georgia.alves1

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