Nossa frágil condição humana!
Nossa frágil condição humana!
Raul Tartarotti
Histórias e piadas contadas por nossa família e amigos, invariavelmente nos fazem rir, mas se forem das boas. Observando no detalhe, elas contam histórias sobre o mal, ou de uma desgraça alheia.
A bondade não tem graça, somente se ao final da história, se tornar um desastre.
O filósofo francês Henri Bergson disse que o cômico exigia algo como uma momentânea anestesia do coração. “O riso não tem maior inimigo que o coração”, por isso rimos do mal para que ele não nos atinja.
Uma das piadas que os judeus contavam na Alemanha nazista, era sobre o que um comandante da Gestapo dizia a um judeu: “Vou te dar uma oportunidade de viver, se adivinhar qual dos meus olhos é de vidro”.
O Judeu responde de imediato. – É o esquerdo. O oficial admirado pergunta: “Como é que descobrisse? E o Judeu respondeu.
– É o que parece menos humano.
Pode parecer surreal, no entanto, é uma manifestação bastante profunda nas mãos de todos que se confrontaram com o mau absoluto, que o fizeram mais por necessidade do que provocação.
Na União Soviética a piada frequentemente contada era a seguinte:
“Sergei, arranjei um emprego, vou para o cimo daquela torre, e meu trabalho é tocar essa corneta quando a revolução triunfar. Pagam-me um rublo por dia”.
“Ivan, isso é pouquíssimo “.
“Eu sei, mas é um trabalho para toda vida”.
Eles riem do mal, do bem, ninguém rí, para quê?
Mesmo histórias curiosas que resultaram num final trágico, por consequências em suas entrelinhas, parecem uma ironia do destino.
Como ocorreu com o Ex Presidente da República Portuguesa, o Ditador Antonio de Oliveira Salazar, apegado ao poder, de onde emanou ordens dramáticas e doloridas àquele povo sofrido, acabou por encontrar um final mortal inesperado, em sua trajetória humana.
Uma história com ares de ópera-bufa, se imaginarmos que o ditador foi derrotado por uma queda ao chão.
Antonio de Oliveira Salazar
Uma história com ares de ópera-bufa, se imaginarmos que o ditador foi derrotado por uma queda ao chão.
Em 1968, Salazar gozava férias em Santo António do Estoril, e sentado em uma cadeira que não se sabe se em falso ou quebrada, ou estrategicamente fora do lugar, levou o ditador ao chão, onde bateu a cabeça com violência no piso da pedra. Teve um hematoma cerebral e não se recuperou do trauma. Morreu dois anos depois. Conta-se que ele jamais soube que não era mais o presidente do Conselho de Ministros e que a equipe de governo se reunia em sua presença, para encenar reuniões e decisões.
Nossa frágil condição humana limita uma rota a todos, muito similar a fraqueza de seus pares e a finitude que nos acompanha.
Mas o dolorido é quando os meses e anos escorrem pelos dedos, e chegando a velhice, se vê que não saiu do lugar.
@ raultarr