Nômade, Fiel como os pássaros migratórios
Nômade. Fiel como os pássaros migratórios.
E muito além do humano.
Por Geórgia Alves.
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Demasiadamente dedicado a transformar a vida em experimento literário, de maneira intensa, orgânica, o escritor Flávio Ricardo Vassoler deve ter bebido o leite da pós-modernidade na fonte. Condensa no novo livro o pensamento humano que remonta a Sócrates e o fiel aluno, Platão, mas não fica por aí. Entre socráticos e retóricos, filósofos e poetas, escritores e escultores, provável é mesmo que, na adolescência, tendo vivido em cidade grande como São Paulo, exposto às dicotomias extremas, reservadas somente às megalópoles, tenha formulado de corpo todo inúmeras hipóteses, amadurecendo pela didática suas escolhas.
Não é segredo a quem assiste os cursos, preferências musicais – do Heavy Metal do Metálica ao Techno ou ainda o que houver de mais contemporâneo. Nomodo elétrico, contempla dos hibridismos da contracultura às bases da teoria, em mergulho fundo. Estruturado. Sobretudo no campo literário. Se o território profícuo para seus experimentos sonoros foram os anos noventa, a capacidade de compreender movimentos sociais e cenários políticos em transformação pelo mundo se deve à extraordinária fase mais adulta.
A escrita de Ricardo, e não é possível ignorar o livro aberto que propõe com a produção dos vídeos para o canal, para além das cinco publicações, desperta irreversível fascínio no leitor e leitora que deseja apreender sentidos ao mundo de hoje. Principalmente a compreensão de um significado para o que estamos atravessando. Quem não tem perguntas sobre os insondáveis problemas da política brasileira ou dos territórios entre Europa e Oriente Médio.
Sua história de vida tão fértil de uma pulsão criativa fecunda nossos ouvidos de todos os autores e autoras dos nossos programas de pós-graduação, mestrado e doutorado. Amálgama dignos de René Wellek e Austin Warren ou Jacques Derrida.
O livro de Flávio Ricardo Vassoler, Metamorfoses: os anos de aprendizagem de Ricardo V e seu pai não apenas consegue atualizar discursos como promove a desconstrução do mais antigo dos vícios ao se falar em filosofia e teoria. Seu modo desperta todas as sensações que ultrapassam a condição da chamada a Arte Contemporânea que vimos nascer das bases do Estruturalismo. Mais ainda, de um pós-estruturalismo que não nos contempla se prescinde das humanidades.
Nascido no mesmo dia do escritor extraordinariamente russo, criador de Literatura a contrapelo dos valores de sua época, Flávio Ricardo estudou a obra de Dostoiévski e inspira nosso entrevistado de tal modo que é possível entrever, como em lâmina de vidro, sobreposição das psiques. Dispondo de expressão incompleta, as reciprocidades vão além do universo retórico. Das verves.
Ricardo não apenas nasce no mesmo dia onze de outubro – e neste ano quando se comemora o bicentenário dostoievskiano, suas andanças pelo território europeu passa a criar imagens atualizadas da complexidade e, ao mesmo tempo, compaixão, que nos aproxima da obra de Dostoiévski, obrigado pelo pai a cursar engenharia em escola militar. Enquanto o entrevistado pôde escolher e, por isso mesmo, enfrentou todos os dilemas da escolha. Passando pelo curso de Direito, e para depois optar por Ciência Sociais e assentar sua fortuna crítica na Literatura.
Desde os anos de 2003 e 2007, das salas de aula e cafés da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP) constrói o caminho da Arte, que logo se apresenta para ele durante o Mestrado em Teoria Literária, entre 2008 e 2010, quando escreve a dissertação “Dialética do labirinto: A polifonia amordaçada de Fiódor Dostoiévski“.
Não poucos centros acadêmicos compreenderam logo, o que acontecera ao jovem cientista transpassava barreiras culturais, de tal modo que a vida de Ricardo o levou aos extemos, não apenas em territorialidade, mas na construção de uma robusta arguição sobre as experiências humana, filosófica, política, artística, tecnológica e o que se apresente mesmo na repaginação voraz destes tempos. Geograficamente esgarçando em sua tessitura humana, se fez pesquisador convidado do curso de língua russa, em pesquisas bibliográficas junto à Universidade Russa da Amizade dos Povos (RUDN), em Moscou. Casou com e na Rússia de Dostoiévski.
Entre 2014 e 2015, em estágio doutoral junto à Northwestern University, em Evanston, nos Estados Unidos, ministrou mais cursos e palestras.
Durante a pesquisa de pós-doutorado torna-se referência na compreensão da literatura russa, conduzido pela Prof.ª Susan McReynolds, coordena seminários de estudos sobre literatura russa e filosofia alemã. Além da Literatura das duas culturas, domina boa parte dos caminhos inexatos e, para a maioria dos seres humanos tortuosos, entre a Arte e a Teoria e Crítica Literárias, que ele domina a ponto de conciliar a uma rotina de nômade.
Seu campo é a Literatura, e a Literatura Comparada, se é que se pode fazer recorte tão linear de alguém que, obstinadamente, vem conseguindo modificar o mapa no campo das redes sociais em matéria de Arte. A luta por ocupação de territórios no modo remoto muda dia após dia graças a inteligência associada ao dialético bordão, frase do filósofo pensador romano Terêncio.
– Contraditoriamente dita na interface da Internet – “Eu sou humano e,portanto, nada do que é humano me é estranho”, Flávio Ricardo Vassoler “faz chegar a mais e mais pessoas” a Literatura Russa e os fundamentos da Teoria Crítica, estabelecendo diálogos entre Arte, Literatura, Filosofia, História, Cinema, Pintura, Escultura... Ad infinitum.
Há praticamente dez anos, entre 2012 e 2015, desde que concluía o Doutorado novamente inspirado pelo moscovita que conquistou milhares de leitores em todo mundo, se especializa em estudar a psique das massas, como entender seus vícios e virtudes, seus fetiches. Não é por acaso que o nome da tese em Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH-USP seja “Dostoiévski e a dialética: Fetichismo da forma, utopia como conteúdo”.
Período em que iniciava os estudos do pós-doutorado em Literatura Russa, vivido em 2016 e 2017 junto ao Departamento de Línguas e Literaturas Eslavas da Northwestern University (EUA). Leituras iniciadas por esta colunista – recomendo modo apurado, tanto da versão em repositório universitário quanto formato publicado pela Editora Hedra, em 2018. Mora, atualmente, na cidade de Braga, em Portugal, onde ministra aulas de Literatura Brasileira.
Flávio Ricardo Vassoler falou à esta escritora e jornalista sobre seu quinto filho literário: “Metamorfoses, os anos de aprendizagem de Ricardo V e seu pai”.
Geórgia – Muito boa tarde! Bom dia e boa noite! Para todos que vão nos ver depois desta transmissão ao vivo! Estamos na plataforma e-bienal, da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Neste sábado, 04 de setembro de 2021, às três da tarde. Sejam bem-vindos e bem-vindas todos e todas. É uma grande alegria estar ao lado do escritor Flávio Ricardo Vassoler, falando de Recife para a cidade de Braga, Portugal. Onde ele está morando.
Esta é a estreia do Espaço Humanidades, uma epifania semelhante ao nascimento de uma girafa! – Quando nasce vence a distância de quase dois metros de altura. Este espaço espera ter periodicidade mensal. E com este nome – Humanidades – não poderíamos deixar escapar – um livro que traduz muito bem nossa condição nestes dias. Livro que traça itinerários de transformação do período da infância, passando pela adolescência à idade adulta.
Ricardo – Boa tarde, Geórgia. É uma alegria estar com vocês, aqui na Bienal Internacional do Livro. Eu estive em Recife há quase dois anos atrás. O livro foi lançado aqui de Portugal, a partir de um Selo criado por mim e por minha irmã. Nômade, fiel como os pássaros migratórios. (A obra é entregue para todo o Brasil pela Amazon ou a partir da operação pix pela chave nômade.editora@gmail.com)
Geórgia – Não só sintomático, amálgama artístico, criativo, didaticamente por uma narrativa acima de tudo orgânica. A obra sintetiza discursos de filósofos, teóricos, artistas, poéticas. Personagens da história, e pelo gesto da criança, de modo simples e muito subliminar, como no gesto da criança que aponta, subliminarmente aprendemos e nos apropriando da teoria, ao passo do que vai experimentando o personagem. Polissemias semelhantes aos falares em língua portuguesa, em país tão vasto o nosso.
Por que convidar o escritor Flávio Ricardo:
Ricardo morou na Rússia, estudou na Universidade Russa da Amizade dos Povos (RUDN, em Moscou), fez pós-doutorado em Literatura Russa, especializou na Literatura de Fiódor Dostoiévski de quem comemoramos o bicentenário neste ano, no mesmo dia de seu aniversário – 11 de novembro de 2021. Aqui metamorfoseado em professor e youtuber, que já consegue com seu canal chegar a mais de vinte mil pessoas, cujo bordão, aforismo genial, daqui a pouco falo mais.
Escritor e professor que acaba influenciando tanto a gente de modo didático. O livro é muito sintomático. Estamos falando deste lugar não-orgânico – e por uma eternidade dos dados e algoritmos – neste aquecimento, apreparação para o encontro presencial na Bienal do Livro de Pernambuco. Então, vamos à primeira pergunta:
Como surgiu a narrativa, os diálogos de Ricardo V com seu pai.
Flávio Ricardo – Muito obrigado, Geórgia, pela apresentação, muito gentil, uma amiga, grato pelo convite, muito generoso, o contato com a Geórgia sempre muito fraterno, vem fazendo os cursos que eu venho ministrando, eu estou aqui em Portugal. E é uma honra estar aqui na e-Bienal, da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.
O contato com a Geórgia sempre muito fraterno. Faz os cursos que eu ministro. O livro está sendo distribuído para todo o Brasil pela Amazon. É uma alegria está aqui na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, eu estive no Recife há quase dois anos, quase dois anos, pouquinho mais que dois anos, em novembro de 2019, e gostei muito sobretudo de estar no Recife Antigo. Muito obrigado, Geórgia, pelo convite.
A gente é que agradece, porque você aceita o convite para que a gente possa falar sobre o livro “O Metamorfoses os de aprendizagem de Ricardo V e seu pai”
“Metamorfoses: os anos de aprendizagem de Ricardo V e seu pai” surgiu se metamorfoseando – vou fazer este trocadilho. Eu não sabia, no início, Geórgia, que tinha um romance em diálogos envolvendo as conversas de pai e filho, eu não sabia que tinha um romance em diálogos.
Em algum momento, no segundo semestre de 2018, eu comecei a escrever e me surgiu essa forma de um romance de formação em diálogos envolvendo a infância do Ricardinho e as conversar entre ele e seu pai. Em algum momento ali do segundo semestre 2018, três anos, portanto, eu comecei escrevendo os diálogos com o pai, as conversas de Ricardinho com seu pai. Destes diálogos, saiu o primeiro, saiu o segundo…
E aí, para espectadores e espectadoras saberem, este livro “Metamorfoses: os anos de aprendizagem de Ricardo V e seu pai” envolve justamente, o Ricardinho virando Ricardo, na adolescência, depois na vida adulta. Passando pela infância que é o primeiro momento. E eles estão conversando ali… E vocês veem aqui na capa do livro, essa foto, tirada por minha irmã.
A fotógrafa Larissa Wosniak, parceira na Editora Nômade, uma foto muito linda, como que sintetiza esse espírito. No sentido do que vem a dizer com o aforismo de Nietzsche, “Maturidade do adulto, recuperar a seriedade da criança ao brincar”.
Eu comecei a escrever os textos com a instância do eu lírico, sob o prismado eu lírico, vamos dizer assim, um eu lírico narrativo, uma instância literária para a poesia, mas como principalmente na infância a prosa é bastante poéticaeu comecei a colocar pai e filho em diálogos. No decorrer ali para a vida adulta.
Num sentido não só de aprendizagem do filho, mas também do pai, a curiosidade, a amizade, amor, paixão, autoritarismo, curiosidade, a imaginação,perfídia, democracia, um sentido não só de aprendizagem do filho, mas também do pai, da narrativa, amor, paixão, perfídia, democracia, material vivo.
Eu costumo fazer comparação neste sentido de um escultor diante da resistência da pedra, conforme ia examinando o lugar onde o escritor podia bater com a picareta, rasgar o mármore, a forma, descobri que não era só de aprendizagem dele, do Ricardinho, mas também do pai. Conforme eu tinha esses diálogos eu fui tateando com o livro comecei a perceber o material vivo.
Se a gente pensar no ofício do escultor vai precisar ser conhecedor da resistência dos materiais e pensar nesta resistência dos materiais onde ele pode martelar, modelar, inchar, para aproximar o material vivo para que a estátua fosse sair. Esse material vivo começou a trazer a narrativa para mim. O filho se colocando, pensando junto com o pai, até que numa maturidade a gente não sabe quem aprende com quem. Criava esse material vivo que criava o ímpeto pela vida.
O pai fica mais crepuscular e o filho está ali querendo voar para a vida, a crisálida a se transformar em uma borboleta. Ele começou a ser escrito há três anos e logo no começo veio uma coisa boa, entre 2018 e 2019, que foi o meucanal do YouTube, no dia primeiro de agosto, aliás a nossa querida Geórgia nos deu um prazer muito grande em participar. No Brasil, há tratativas, para publicar este livro na França, a gente está vendo isso, pelo Selo Nômade Fiel como os pássaros migratórios para publicar os meus livros.
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Abaixo o link de lançamento do livro:
.https://www.facebook.com/344891736347051/posts/1003288597174025/?sfnsn=wiwspmo
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Para receber o livro em casa, as pessoas só precisam acessar plataformas de distribuição de obras literárias, a exemplo da Amazon. A distribuição é feita para todo Brasil também a partir de operação simples, chamada pix – no valor de sessenta e quatro reais – a chave da operação é nômade.editora@gmail.com.