Morte e Vida
MORTE E VIDA
Eugênia Câmara
– É hora de partir, disse a morte.
– Mas, já? Respondeu a vida.
– Como assim, já?
– Sim assim sem aviso. Sem despedida. Sem ressalvas. Sem ponto final….
– O ponto final é agora. Disse a morte.
– Mas quem determina o ponto final, afinal?
– Sou eu, a morte.
– Mas quem manda na morte?
– Deus, disse a morte.
– E onde ele está que não teve tempo de me avisar que você vinha?
– Não sei. Ele está em todos os lugares ao mesmo tempo. E quem disse que ele não está aqui agora?
Uma lágrima escorre pela vida.
A morte se compadece e entristece também. Mas em seguida se recompõe e pergunta para a vida:
– Diga-me uma coisa: Fostes feliz, vida?
A vida fecha os olhos e pensa em todos os seus momentos. E, em frações de segundos ela chora, ela ri, fica terna, sorri, entristece, esmorece, ressurge e finalmente responde com uma única palavra:
– Fui.
– Se fostes tão feliz assim, porque estás com medo de mim? – pergunta a morte.
– Porque poderia dar mais felicidade a outras pessoas.
A morte reflete um pouco e diz:
– Tu não achas que está na hora de aceitar que outros façam isso?
– Não sei, disse a vida.
– E se eu quisesse me despedir de todos antes de partir, tu me permitirias?
– De todos seria impossível, disse a morte.
– Então não quero dar adeus a ninguém.
– É uma escolha tua, disse a morte. Eu vim aqui para te buscar. Hoje. – disse a morte.
– O que mais posso fazer para adiar essa partida? – perguntou a vida.
– Nada. – disse a morte.
– Mas posso fazer um último ato antes de partir? – disse a vida para a morte.
– Claro! – disse a morte.
Então a vida pegou dois cálices de vinho e entregou um para a morte e disse:
– Brindemos ao nosso antagonismo e ao nosso egoísmo.
– Como assim antagonismo e egoísmo, quis saber a morte.
Então, a vida tomou todo o seu cálice de vinho e disse à morte.
– Estou pronta para seguir os teus passos…. e deixou a morte sem resposta.
@mecalves
Diálogo sem pieguice, provador, acolhedor e claro como mossa finitude.
Adorei!