Jogos etílicos

Jogos etílicos

Eugênia Câmara

Nossas lembranças são feitas de atos e fatos vividos e experimentados. Somos um livro com vários capítulos. Uns mais interessantes que outros, alguns ruins, outros péssimos e também tem aqueles que são inesquecíveis. Nem sempre esses são tão maravilhosos, como o nascimento de um filho por exemplo, mas podem ser guardados na memoria pelo inusitado da situação, que foi o caso do dedão.

Há alguns anos, para não dizer muitos, vivi uma situação tão surreal que nunca esqueci.

Estava na casa de praia dos meus pais, em Atlântida, com um casal de amigos e começou a chover. Putz, chuva não combina com praia. Tédio total.

Mais de um dia assim, só restava fazer palavras cruzadas, ler, jogar cartas, comer, dormir, beber e tentar ver TV. Sim, era isso mesmo, tentar. Depois de colocar todo o pacote de Bombril na antena e nada de melhorar a imagem, a desistência era a única opção, pois subir no telhado nessa situação era inadmissível.

Após um farto almoço num dia sem sol e sem televisão, só restava nos render ao sono dos justos. Coisa boa acordar com cheirinho de café passado e bolinho de chuva. Ah, cheiros e sabores de infância.

Devidamente alimentados e com o sono em dia, resolvemos jogar cartas. É bom salientar que nem Pac Mam existia naquela época.

Depois de muitas rodadas nos abastecemos novamente, com pipoca, pastelinas e cervejas – e a chuva teimava em não ir embora.

Desde o início do jogo, resolvemos fazer um rodízio para ver de quem era a vez de pegar a garrafa de cerveja no refrigerador quando terminava a que tínhamos na mesa. A penúltima a buscar o trago fui eu e avisei:

– Gente, só temos mais duas, a que estou trazendo e outra na geladeira.

Assim que nossos copos ficaram vazios, foi a vez dessa amiga buscar “a última das moicanas”.

De repente ouvimos um grito. Largamos as cartas imediatamente e fomos ao socorro da amiga. Ela começou a rir e dizer palavrões ao mesmo tempo e não largava a garrafa. Perguntamos o havia acontecido e ela nos contou:

– Quando peguei a garrafa, ela escorregou da minha mão. Então, consegui colocar o pé embaixo, ela caiu no meu dedão do pé e consegui pegá-la por pura sorte.

Começamos a rir do inusitado e, para encerrar a noite, ela diz a seguinte pérola:

– Quebro o dedo, mas não perco o trago.

E, cada vez que vejo apenas uma lata ou garrafa de cerveja no refrigerador, lembro dela. E assim contam-se as histórias.

@mecalves

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1 comentário em “Jogos etílicos

  1. Bom Bril na antena só era superado por um tapa vigoroso na parte de cima da TV… mas faltar cerveja naqueles tempos era pior do que chuva. Sábia atitude da amiga, afinal tinha 10 dedos no pé e só uma cerveja

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