Jogos e Paixões
Charge por: Adão Iturrusgarai
Jogos e Paixões
Fernando Balduino
Consta nos anais da biologia e da metafísica uma feliz impropriedade da psique e da energética hormonal; qual, em si, justifica certa sanidade e, mesmo, privacidade d’entre uma e mais outras vidas. Como são lamentos e pêsames humildes; ousam essas e outras expressões ‘transanimar’ os páthos de si para outrem ou de outrem para si, mas ainda tudo sem vingar e irromper no quesito particularismo. Com efeito, às positivas (de alegria, ou cores longe do azul) tais exames verificam-se em igual medida. Eu mesmo acredito nunca o ter feito com vivalma sequer, apesar de me parecer agradável. Talvez por isso mesmo seja permitido aqui o uso irrestrito daquelas vozes temporais indeclináveis e inflexíveis, que ao sujeito atribuem certo ar de introspecção absoluta e categórica – “Jamais há de sentir-se na pele que não a de si? Sempiterna a contenção do Eu em si mesmo?”, pergunta o Abysmo epistemológico. Sim! Profundissimamente atua rompendo os elos entre as máximas do pensamento e seus respectivos umbrais mudos no mundo manifestado; tal como famosa montanhesa de Iesu, ou algum sábio verso oriental. Pois, do Oiapoque ao Chuí a carapuça serve; quiçá por mais hoje, dados os néscios recreios da polarização ideológica.
Ora, posto o irrepetível, por que bulir nisto!?Ecce homo… talvez d’este encontra-se a réplica n’algum pequeno do comezinho clariceano; ou então, sabe-se quem?, n’uma subtil semiótica tibetana, guardada humilde sob os espessos tomos d’um velho escaraporte, junto com a mais rija das teorias éticas intramundanas. E bem seja o que seja – capricho ou sublime; fato é o que segue: ser simpático é, em geral, ser econômico; e este é, senão, o poupar anímico antes as bobagens mínimas, que, pela palavra, roem Impérios. Toma-se, pela arte do exemplo, todo o critério do uso dos diminutivos (“moço, me dá um minutinho”; “… uma licencinha”; “falta só um pouquinho”), os quais de todo fazem crer na douta análise do senhor (sinhozinho?) Sérgio Buarque de Holanda; n’um verdadeiro esconde-esconde do amai o próximo com a ti mesmo.
Assim pressuposta a vontade para a virtude (e qualquer!), d’isto percebe-se grandíssima vileza da paixão, em especial, brasileira – onde violentos narcisos usurpam vacinas; onde uns doentios solipsismos desafiam o uso da máscara; onde toda a escória do egoísmo constitucional parece se concentrar. Visto, pois, que muito se engana a esperança d’um humilde e geral despertar de Antão do deserto; àqueles, prescreve-se, em rigor, a cegueira de Saramago, ou o bom naufrágio de Crusoé, em nome d’um romântico (ou platônico) despertar do espírito. Mas,demais dos extremos, seria coerente mesmo este texto ser capaz de servir ao exemplo empático, e abandonar, bem ao cabo, esses divertidos jogos com o paradoxo da tolerância. Devíamos mesmo nos fiar na cesta básica do senhor Antônio Cândido? Creio que não custaria tentar. Assim também a repetição p’ra lá de banalizada do sermão mais famoso da História da Igreja. Tantas, tantas fés… peloexposto, iguais em número à quantidade de pessoas no mundo.
Mas haveria porventura algum desfavor? Claro; em todo grande sistema psicossocial, parecem esquecer os teóricos a constante aquém da curva gaussiana que torna o gráfico desconfiável. É essa a constante do egoísmo orgânico, que sempre parece deixar valer aquele lúdico e verossímil do refrão – “Joga pedra na Geni; Joga pedra na Geni!”…