Humanidades Extraordinárias

Humanidades extraordinárias

Por Geórgia Alves

Darei início à narrativa com uma pergunta: Onde estaria Wally hoje? A Bienal Internacional do Livro de Pernambuco retoma no próximo mês de outubro o seu formato presencial. Depois de dois anos, radicalmente atípicos – não há quem não teve que reinventar a própria vida em tempos de Covid19 por treze vezes nos apilhamos entre estandes e palcos iluminados pela fagulha divina de nossos melhores ídolos e ídolas.

Não poucas vezes víamo-nos já em excitações, a este momento do ano, euforias prévias da mente,antevendo encontros e saudações, abraços aguardados. Imagine agora. Depois de espera tão maior, onde sobra sobreposta alegria de experimentar o futuro no antes, que bem poderia chamar depois do fim do mundo, o período pré-bienal. Embora seja e-bienal, está bem?

A plataforma criada como lugar permanente de trocas e estímulo da leitura, movimentação do mercado livreiro, intercâmbio das ideias, criaçõesliterárias recebe neste sábado, 04 de setembro de 2021, o programa Humanidades. Ah, a aldraba da porta, atravessamos o biênio mais conturbado e o inevitável solidificou.

Precisamente às sete horas da noite estreia o programa Humanidades, tenho a honra de entrevista o escritor Flávio Ricardo Vassoler, autor do romance de formação em diálogos “Metamorfoses: os anos de aprendizagem de Ricardo V e seu pai”, pela Editora Nômade – Fiel como os pássaros migratórios. Que já voa por ares cibernéticos aos quatro cantos do mundo a partir de seu canal, com milhares deseguidores.

Escritor, professor, nômade e youtuber, Vassoler é autor de cinco livros: O evangelho segundo talião (nVersos, 2014), Tiro de misericórdia (nVersos, 2014), Dostoiévski e a dialética: Fetichismo da daforma, utopia como conteúdo (Hedra, 2018) e Diário de um escritor na Rússia (Hedra, 2019). Escreve para o caderno literário “Aliás”, do jornal O Estado de São Paulo, “Ilustríssima”, do jornal Folha de São Paulo, as revistas Veja, Carta Capital e Piauí, e colabora mensalmente com a TV 247 e Espaço da Cultura.

Bacharel em Ciências Sociais Flávio Ricardo Vassoler, entre 2003 e 2007, concluiu o curso pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). De 2008 e 2010 fez o Mestrado em Teoria Literária, com a dissertação “Dialética do labirinto: A polifonia amordaçada de Fiódor Dostoiévski“. Entre 2012 e 2015 fez o Doutorado novamente inspirado pelo moscovita que conquistou milhares de leitores em todo mundo, Dostoiévski e a dialética: Fetichismo da forma, utopia como conteúdo” é o nome da teseem Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH-USP. Com pós-doutorado em Literatura Russa, vivido em 2016 e 2017 junto ao Departamento de Línguas e Literaturas Eslavas da NorthwesternUniversity (EUA).

Havia se dado, entre 2008 e 2009, ao curso de língua russa e pesquisas bibliográficas junto à Universidade Russa da Amizade dos Povos (RUDN), em Moscou. Entre 2014 e 2015, fez estágio doutoral junto à Northwestern University, em Evanston, nos Estados Unidos. Durante sua pesquisa de pós-doutorado, ministrou palestras sobre literatura russa conduzido pela Prof.ª Susan McReynolds.Coordenando seminário de estudos sobre literatura russa e filosofia alemã. Atua nas áreas de Teoria e Crítica Literárias, Literatura Comparada, Literatura Russa e Teoria Crítica, estabelecendo diálogos entre Literatura e Filosofia, Literatura e História, Literatura e Cinema e Literatura e Pintura.

Em 2019, lecionou, como professor temporário, no curso de Letras da Universidade Estadual de Maringá (UEM). É neste mesmo ano que se tornaautor do livro de crônicas, ficções e ensaios “Diário de um escritor na Rússia” (Hedra, 2019); da tese “Dostoiévski e a dialética: Fetichismo da forma, utopia como conteúdo” (Hedra, 2018); do livro de ensaios e aforismos “Tiro de misericórdia” (nVersos, 2014); e do romance “O evangelho segundo Talião” (nVersos, 2013). Organizou o livro de ensaios “FiódorDostoiévski e Ingmar Bergman: O niilismo da modernidade” (Intermeios, 2012) e, ao lado de Alexandre Rosa e Ieda Lebensztayn, o livro “‘Pai contra mãe’ e outros contos” (Hedra, 2018), de Machado de Assis.

Desde que voltou do período na Rússia, em Moscou, ministra aulas e cursos pelo canal do Youtube e plataformas, a exemplo do período em que atuou para instituições culturais como a Casa do Saber, a Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, a Casa Guilherme de Almeida, o Instituto Superior de Educação Vera Cruz, o Instituto Federal de São Paulo, o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), o Sesc, o Ágora Teatro, entre outras.

Professor e palestrante convidado de universidades brasileiras, tais como a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Poços de Caldas, em cursos de cursos de extensão. Foi também professor da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), entre 2012 e 2013, em disciplinas para os cursos de Letras, Direito e cursos de licenciatura. Em 2013, começa como colunista do portal “Carta Maior”, uma seção chamada “Arte e Cultura”, escrevia ensaios sobre cinema, literatura e teoria social.

Entre 2013 e 2015, apresentou, pela TV Geração Z, o “Espaço Heráclito”, programa de debates artísticos, filosóficos, políticos e sociais, entrevistando pesquisadores da academia brasileira. Colaborou com as revistas “Cult” e “Carta Capital”. Em 2018, curador do módulo “As metamorfoses da banalidade do mal”, para o Café Filosófico CPFL/TV Cultura. Também foi jurado do Prêmio Literário Oceanos. Neste ano, vi a manhã nascendo no Marco Zero do Recife.

Guardara o lar em um guarda-móveis, chamado box & box, aceitando o voo dos filhos. Encarei a dura face de Medusa e a síndrome do ninho vazio num Hostel, na Rua da Moeda, morei por três meses no Histórico Recife Antigo. Naquele ano houve Bienal, minha participação se resumiu a exibir o teaser do terceiro filme “Apartamento” –, não concluído.

Entregava a dissertação do Mestrado em Teoria Literária pela UFPE: “O retrato do Recife em Clarice Lispector”. Um laço “de família” que teve início com a Pós-Graduação em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Pernambuco, em 2002. Talvez por isso tenha reconhecido no escritor a mesma tamanha gratidão que destino à autora de “A maçã no escuro”, depois iniciei nos cursos do professor Ricardo, não perdi mais nenhum, percebo a conexão inexplicável ao moscovita, a dedicação ao estudo da obra de Dostoiévski nascido há 200 anos, a serem celebrados próximo dia 11 de novembro, dia também de nascimento do escritor brasileiro, paulistano, corintiano e fiel como os pássaros.

Enquanto ensinava Licenciatura nas faculdades de São Paulo e Minas, escrevi ao portal interpoéticados primeiros textos, no impacto de ir à Bienal com os filhos quase crescidos, passear pelos corredores flamejantes de novidades literárias. Nada simples a euforia em nossas mentes inventivas, entregues às subjetividades das narrativas.

Se bem recordo, pude ver minha Lore devorar cinco mil das páginas dos livros que trouxe para casa,estórias lidas em curtíssimo intervalo de tempo, na passagem da infância à adolescência. Como nossos olhos brilharam e até hoje brilham diante dessaspublicações, os melhores momentos de nossas vidas!?

Contrariamente aos grãos de areia que escorrem pelo fino pescoço da ampulheta, foram sem retorno. Olhe, honestamente, quem puder, o melhor que tem a fazer a si mesmo, ou si mesma, é estar atento,atenta ao instante. Somos sempre felizes, mesmo na infelicidade. Depois do que enfrentamos, afirmações,perdas, dores, feridas não cicatrizadas, discursosainda nos entristecem diariamente, redimensionamos o que vem a ser uma alegria, imensa porque fruto dos pequenos gestos diários – é preciso resistir, domar intempéries do corpo, seguir no contraste das epifanias da alma.

De janeiro branco a setembro amarelo, uma pergunta me ocorre:

Onde estaria hoje, se continuasse no anonimato,salvando vidas, trocando abotoaduras por judeus aprisionados nos campos, nosso estimado Wally? Depois de ler dois dos cinco livros, assistir horas e horas das aulas, o escritor, professor, nômade, youtuber não me convenceu de que é humano. Entretanto, bem dizem ele e o filósofo Terêncio, quenada do que é humano nos seja estranho.

Notas:

A programação da e-bienal está nas redes sociais esite www.e-bienal.com.br. O link para assistir a estreia do programa Humanidades com Flávio Ricardo Vassoler, convidado, e apresentação desta colunista é: www.e-bienal.com/ci-17. Geórgia Alves é escritora e jornalista. Assina roteiro e direção de trêscurtas-metragens. Um em processo de finalização. Mestra em Teoria Literária, escreveu sobre “O retrato do Recife de Clarice Lispector”. Tem três livros publicados – Reflexo dos Górgias (Editora Paés), Filosofia da Sede (Chiado) e A caixa-preta (Viseu). Participa de várias antologias e coletâneas a exemplo de “Recife de Amores e Sombras” (2017 – CAPA); “Luz Severa – Contos de Oficina” (Bagaço) e Mulherio das Letras Portugal (2020-2021). Colaboradora do site e Instagram do Espaço da Cultura. @_espaco_da_cultura_

5600cookie-checkHumanidades Extraordinárias

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.