Divagações sexagenárias
Divagações sexagenárias
Eugênia Câmara
Mais uma semana está começando, cheia de compromissos, promessas e desafios.
Quando vemos já estamos, novamente, no sábado e domingo. Ufa, mais uma semana vencida. Vencida ou vivida?
E assim vamos de semana em semana, de feriado a feriado, de ano a ano. E tudo se repete.
Então chega o dia do aniversário, para nos mostrar através dos números, que o tempo está passando, e muito mais rápido do que desejamos. Pessoas cantam parabéns, te congratulam por mais um ano de vida e desejam muitos e muitos anos vindouros.
Mais um ano de vida? Não seria ao contrário, menos um ano? Afinal, quando nascemos trazemos conosco nossa régua. Isso mesmo, uma régua de vida. Cada um com aquela do seu tamanho. Qual centímetros ou anos, por assim dizer, terá a minha? Não sei. Só sei que para uns ela é longa, para outros, muito curta.
Minha avó, que faleceu aos 92 anos de idade. Dizia que o ruim de envelhecer é que teus amigos e parentes vão morrendo, e vais ficando para trás com as tuas reminiscências e pecados. Nunca perguntei a ela o porquê dos pecados. Acho que isso, cada um tem os seus, até porque, para mim pecado é não poder usufruir do que a vida nos proporciona.
Pensei nisso quando fui visitar ao túmulo do meu pai que faleceu, aos 50 anos de idade, em 1984. Fiquei pensando que estou no lucro, – tenho, atualmente, mais idade que ele tinha -, e pecado foi ele ter morrido tão cedo. Quanto vinho ele deixou de tomar de lá para cá? Quantos livros deixou de ler? Quanto sexo deixou de fazer? Quanto amor deixou de dar e receber? Não conheceu os netos e muito menos conhecerá o bisneto.
É, realmente não sei porque dizemos mais um ano de vida quando trocamos de idade. Na verdade, deveríamos chorar por cada ano ficarmos com menos um ano de vida, porque a cada momento, estamos mais próximo do limite.
Pense nisso!
Enquanto eu penso, ou não penso, ao sabor de uma ótima taça de vinho, vou dedilhando minha crônica e planejando minhas próximas viagens. Afinal, a vida é uma viagem com data marcada de ida e volta levando uma única bagagem: a régua.
@mecalves
Levamos a régua sem saber se chegaremos ao fim da mesma. Afinal, esse privilégio e do criador..
Muito bom. Embora sejam império das estas avaliações e comparações do vivido , o esquecimento embala os dias. A inevitável avaliação acontece quando nossos mortos vivem. Tenho o olhar semelhante. Teu pai aos 50, o meu aos 62 anos. Quanta tecnologia, quanta saúde chegou depois deles, quantos afetos se perderam.
Sobreviventes somos.
Bárbaro. Sinceramente, somos todos infinitos espiritualmente. Cada tempo de viajante na terra serve para evoluirmos como ser humano. O maior problema, querida Eugênia, é chegar ao final de cada tempo, sem ter feito nada construtivo ao fim da Luz. Como afirmava Cirilo Costa Beber: e preciso gastar a vida. Então vamos…mãos a obra. Parabéns por nós lembrar isto