DA LITERATURA
DA LITERATURA
Julien Sorel
A literatura, entendida por mim, é um balsamo, cujo perfume torna mais tolerável a vida e nos preenche o espírito. Vou além, pois a literatura é mais que a mimesis (imitatio) ou a exposição de uma ideia ou de acontecimentos. Ela transcende o ser humano. O seu caráter é divino. Prometeu, ao dar forma ao ser humano e roubar o fogo do Olimpo, nos legou uma existência inexpiável. Porém, este titã, à medida que tornou a vida amarga, deu-nos algo para tornar esse mar de lágrimas menos penoso: a literatura. Não só a literatura, mas como aqui tratamos apenas dela, ficaremos atracados nessa ideia. Por provir do seio divino, a literatura atravessa-nos e ficamos, desta forma, paralisados diante do inexplicável, ou seja, do divino. Nossa mente limitada é incapaz de entender, mas tão somente sentir.
A literatura fictícia e a não fictícia são ambas sublimes. Ambas possuem o caráter de apresentar situações possíveis e verossímeis e com estas, tirarmos nossas conclusões e aprendizados. Sem falar de estarmos sempre em curiosas companhias, conhecendo seu íntimo. Leio O Vermelho e o Negro e por isso vivo junto a Julien Sorel, compartilhando com ele as situações que ele vive, e que eu tomo nota de meu lugar. Do mesmo modo, leio os poemas de Anna Akhmátova e sinto suas angústias e conhecer os males causados pela União Soviética ao povo, mesmo sem estar presente. Decamerão serve de consolo aos corações apaixonados e desiludidos; Goethe conseguiu mimetizar as angústias de um jovem sensível e sofredor, abraçando os leitores e leitoras que assim o são. Poderia escrever por longas horas e deixar o parágrafo enorme, cheio de exemplos, mas contentemo-nos com estes.
Continuemos…
@ich.binvic