CAPITAL SOCIAL: UM DESAFIO NACIONAL.

CAPITAL SOCIAL: UM DESAFIO NACIONAL.

Antônio Pimentel

Trabalhar de maneira articulada. Saber somar e multiplicar recursos, competências e esforços. Ter uma visão de conjunto da sociedade, dos seus desafios e potencialidades. Unir, ligar, interligar, articular e multiplicar. A sociedade brasileira vem aprendendo, com muito esforço, a conjugar esses verbos. Vivemos avanços e retrocessos. Somos convocados a aprender a melhor matemática social: somar e multiplicar. Somos convocados a combater a fragmentação e o isolamento. Avalio que o conceito “capital social” é muito útil para a compreensão e atuação na sociedade brasileira.

Capital social é a capacidade de trabalho conjunto e coeso, visando objetivos comuns em organizações, grupos, comunidades e sociedades. É resultado de engajamento cívico, de participação ativa e articulada para a superação de desafios coletivos.

Segundo o professor e pesquisador Robert Putnam, da Universidade de Harvard, por falta de trabalho cívico (engajamento e participação dos cidadãos), as sociedades acabam sendo governadas de forma menos eficiente. Para ele, “a mais profunda transformação na vida pública, a mais fundamental dos últimos anos é: nós nos tornamos menos capazes de colaborar. Acho importante prestar atenção aos sintomas de desengajamento cívico porque a evidência empírica sugere que o engajamento é importante para ter bom governo, prosperidade econômica e bem-estar social.”

Resgatar e fortalecer essa capacidade de colaborar é essencial para o acúmulo de capital social e fortalecimento de uma cultura da colaboração: superação do individualismo, da fragmentação e da dispersão.

Outro pesquisador, o cientista político Francis Fukuyama, avança nos estudos sobre as bases sociais para a compreensão do que é e como se desenvolve o capital social. Algumas de suas formulações merecem destaque:

• O capital hoje se constitui menos de terras, fábricas, ferramentas e máquinas e mais, em escala crescente, de conhecimentos e qualificações das pessoas;

• Além dos conhecimentos e qualificações, uma porção distinta do capital social tem a ver com a capacidade de interação e associação das pessoas. Capacidade fundamental em todos os aspectos da vida social;

• Dos valores compartilhados e da expectativa de um convívio social cooperativo, estável e honesto nasce a confiança, que tem grande valor econômico, social e político;

• O capital social maior ou menor decorre da prevalência da confiança numa sociedade: nas famílias, nas comunidades, nas organizações e demais grupos sociais;

• O capital social é a capacidade de formação de novas associações (parcerias, colegiados, conselhos e redes, por exemplo) e desenvolvimento de novas formas de cooperação dentro dos parâmetros estabelecidos conjuntamente.

O crescimento do número de parcerias e espaços coletivos de deliberação em uma sociedade ou organização social pode indicar o aumento da sinergia para o enfrentamento de desafios comuns; maior compartilhamento de projetos, ideias e objetivos; o fortalecimento e a predominância de relações de qualidade no convívio social; maior capacidade de construção de relações de aprendizagens; maior circulação de conhecimentos e maior eficácia e efetividade nas ações. Tudo isso fortalece uma cultura de colaboração e eleva as pessoas e organizações ao que Bernardo Toro, filósofo e educador colombiano, classifica como “o nível mais alto de concertação: a do interesse geral ou bem-comum.”

Investir na educação das pessoas. Romper com tutelas. Aumentar o estoque de participação social. Aprender a dialogar com parceiros e diversos. Mirar o principal, o fundamental. Construir pontes. Superar abismos. Estabelecer parâmetros e objetivos comuns. Perseverar. Avançar. Fortalecer moléculas de mudança. São os desafios brasileiros.

@antoniopimentelbh

18/06/2023

 

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