Bisavô Maluco
Por Raul tartarotti
Bisavô maluco
Não possuímos habilidade em solucionar os problemas dos outros, que eventualmente tentamos, no máximo podemos ser mais certeiros com os que vivemos, que já são complicadíssimos de acabar. Nosso comportamento pode sofrer mutação genética, e assim permitir uma saída natural. A pretensão de crer que você pode mudar o outro é um ato que atrapalha a relação, e essa boa intenção confere absurdas possibilidades de amostra grátis em forma de conselhos inúteis. Algumas soluções reais podem ter origem na mudança de nosso DNA, surgido a partir de herança deixada por algum ancestral. Aquele bisavô maluco que sempre pensava positivo, e que alguns disseram que veio na vida a passeio, poderia ter iniciado nossa mudança genética do bem, e assim colaborado com o novo humor diário no espelho.
Muitos possuem a mania de pensar como sísifo, que erguia todos os dias uma pedra até a montanha, e ao chegar no topo, a pedra caia, e novamente ele empurrava ladeira acima até o final do próximo dia. O mito de sísifo descreve a visão que muitos têm de sua vida cotidiana, um carregar de pesos de valor nenhum. Bem diferente do ânimo do bisavô, e da valorização de seus atos, como sendo a construção de um ser, em cuja oportunidade de viver lhe foi dada de graça, o que já é um prêmio a ser grato.
O neurobiólogo Israelense, Oded Reachavi, em breve concluirá que nossos antepassados podem ter nos ajudado a perder a mania de reclamar da pedra diária. Ele estudou os célebres manuscritos do mar morto, feitos em couro de cordeiro e bezerro. Sua pesquisa revolucionária, pesquisou o verme C. elegans encontrado naquele couro, que modificou seus hábitos alimentares e se deslocou em função do meio ambiente. Esse movimento sugeriu que o RNA deles, possa ter sofrido mutação a partir das modificações de comportamento, e da mudança de suas decisões acerca das dificuldades de sobrevivência.
Então essa é uma chance desenhada no bom humor do bisavô, que deixou para as próximas gerações o pensar que a pedra de sísifo nada mais é do que os passos da construção de meu ser, seja ele qual for, a partir dos livros que li, do trabalho árduo que tenho, dos amigos que rodeio, e que o correr do rio de minhas desventuras, não será um absurdo, que alguns consideram suas vidas. No limiar das dificuldades em perceber um respirar duro, está a possibilidade de mutação de seu humor, que pode alterar sua qualidade de vida.
Se você não teve um bisavô propenso ao positivismo, saiba que ainda é possível abandonar o absurdo de reclamar todo dia e ser você o protagonista da mudança de seu DNA. Para viver uma vida plena é necessário acolhê-la e afirmá-la como uma experiência misteriosa, imprevisível, mágica, complexa, e ter a consciência do seu absurdo, da sua ausência de sentido. Os comportamentos podem ser modificados, não só a partir das mudanças do pensamento, mas também por meio das palavras. É através delas que se vê e ouve, elas perfuram buracos na linguagem para ver ou ouvir o que está escondido atrás.
Ah…Raul que texto!!! Vejo muito dos meus ancestrais em mim. As simpatias, os gostos, preferências, afinidades as mais sutis! As contradições, o jeito de ser, o modo de falar, olhar, sentir…! Muito dessa árvore aqui. Olhar pra trás e eleger o que há de melhor pra me conduzir nessa estrada.
Muito obrigado Selma. Minha história foi inspirada num familiar do passado, que permanece trazendo lembranças energizantes.
Muito bom, meu amigo! Teu texto inspirou uma grande conversa em família. Conversa que ainda não acabou. Obrigada!
Muito obrigado Cárin. Sempre que possível repito algumas desventuras do personagem.