Beija-flor e o espaço beijando a Flora

Geórgia Alves

Porque não se consegue ser leve senão com muita sensibilidade e esforço. Como diria Paul Valery, ser leve como o pássaro não como a pluma. Li depois de um dia estranho o conto _beija-flor_ do livro publicado pela Vacatussa neste ano e que não por este motivo traz consigo a existência de nome na capa. Não há justificativa meramente simples na experiência humana, simples se torna quanto mais aceitamos ser e estar no tempo e espaço como fato e não ato de um pensamento. Fosse assim não haveria correlação de forças tão visível de sofrimentos invisíveis…. Ainda que esteja apenas ingressando neste universo da densidade Parisiana, longe de querer traduzir impressões tão precocemente, posso não dizer do que sei mas do tanto que trago depois de ler sem perceber o peso que não vira antes. Apenas imaginando o peso sentia incapaz de saber e por saber ter que suportar. Alguma coisa aconteceu e mesmo sabendo do peso e da matéria para além daquilo que a faz voar superei o que me fez antes parecer incapaz de atravessar. Não sei dizer o que mais gosto na Prosa de João Paulo Parisio . Só sei que há alguns dias era capaz de tomar remédio para dormir para esquecer aquela dor que não passa nunca. Que por um instante duvidei da força funda com que se existe. Hoje não. Hoje me perguntei para quê serve remédio se nenhuma dor é somente ela e com a Literatura nunca se está sozinha neste mundo. Vou torcer para que não se avexe se vier aqui justamente entregar trecho que diz também de tristeza, mas da minha alegria mansa ao ler tanto peso literário e não naufragar. Do contrário. Sair fortalecida: “Deparei-me ainda com o boi triste, sempre afastado dos demais, manso de se botar criança pequena no lombo sem medo e que, quando acariciado entre os chifres, corriam-lhe lágrimas, como lembro de ter testemunhado”. Obrigada de verdade poeta, pelo livro e a tarde terna, verde em flor. Então, é bem assim: Aqui estamos nós, vivos e voando. À espera? Ou não. De olhos bem abertos. Ou seriam estes olhos estreitos, melhor dizendo, bem fechados…

@georgia.alves1