Barulhos
Barulhos
Eugênia Câmara
Barulhos estranhos costumam assustar crianças e idosos. Os rebentos, por desconhecerem o mundo; os experientes, por conhecê-lo demais.
Por isso que, à noite, quando estamos em nossas casas, no nosso quarto e na nossa cama, os barulhos não são tão aterrorizantes.
Mas nem sempre estaremos neste santuário. Muitas vezes, nosso sono se instala em outras paragens, como por exemplo em um sítio.
Aí, todos os sons diferentes surgem no silêncio da noite. Isentemos latidos, miados e a inesquecível e chatíssima galinha de angola com o seu famoso “tô fraco, tô fraco”. Até porque, depois de algumas noites ouvindo esse lamurio, o pobre do ouvinte começa a cantar “tô forte, tô forte” para torcer o pescoço da angolista.
Falemos de sons estranhos como o do tucano, que antes de eu saber que era esse bicho, tinha sobressaltos cada vez que o escutava quase ao amanhecer. Os jacus também emitem um som estridente de arrepiar a alma. E o que dizer dos lagartos com seus barulhos parecidos com cobra e dinossauro?!
Depois de jurar nunca mais dormir no meio do mato, e pedir proteção para todos os santos, aprende-se a dormir e quiçá, sonhar. Mas até eles nos atenderem, já fizemos muito xixi nas calças.
Diante disso, vos digo: o lugar mais sagrado para nosso sono reparador é a casa da gente. Mesmo que para isso tenha-se que dormir com barulho de carros, motos e caminhões. Sem falar das conversas dos ébrios com suas sombras e dos sóbrios e suas vozes de barítono. E que venha o sono dos justos.
@mecalves