Babilônia e a verdade do Cinema e Hollywood

Babilônia e a verdade do Cinema e Hollywood

Geórgia Alves

verdade é um elefante sobre um caminhão na iminência inclinada de uma ladeira, enquanto seus pneus deslizam, alguém estúpido o bastante se divide entre segurar a dupla (besta) fera com as mãos, enquanto dá comida ao animal. Não consigo imaginar imagem mais metafórica para a situação de Hollywood entre os anos de 1920 e 1930, período em que se passa o drama de protagonistas do Cinema daquela época:

Da flamejante – e transtornada – atriz que já “nasceu uma estrela”, interpretada por Margot Robie, a aspirante a superstar, Nellie La Roy, o consagrado ator John Conrad, vivido por um Brad Pitt que brinca com a própria condição de galã influente, que atrai grandes bilheterias, e consequentemente grandes orçamentos, mas que já começa a ser passado para trás pelo próprio tempo das coisas e da Arte. Ainda um mexicano, Manny Torres (Diego Calva), que de motorista a executivo de estúdios vai encarnar a figura que Odisseu faz reverberar em nossos ouvidos, herói de nome “o ninguém”, que termina por fazer toda diferença, ainda que na invisibilidade de quem está por trás das câmeras e tem uma personalidade tão adaptável que é quem sofre agruras sem nunca reclamar para si o protagonismo ou o merecimento pela verdadeira felicidade.

A verdade nua, crua, voraz, feroz, ultrajante, degradante, empobrecida, desfalecida, viva e morte está retratada em cada cena que leva o expectador a um verdadeiro passeio de lineares montanhas russas, os loopings horizontais de cenários continuamente explorados em grandes tomadas, dispostos um ao lado do outro, em takes contínuos, recurso que o diretor Damien Chazelle também já havia utilizado em La La Land: Cantando Estações e Whiplash: Em busca da perfeição.

Os travellings ousados embevecem, em uma circunstância, e em outra atordoam ou atormentam nossos olhos antes habituados a linearidades de um deserto. Nem molhado demais, nem seco demais, os recursos de câmera estão tão em sintonia com o contexto das cenas que é impossível não pensar em comparações com o epitáfio apresentado recentemente nas salas de cinema por Steven Spilberg (Os Fabelmans – que também fizemos análise).

A marca dos experimentalismos avançou para além de uma linha “aconselhável”, em se tratando de Hollywood, a fim de deixar o consumidor de redes sociais e vídeos do Instagram e Tik Tok tão à vontade quanto dos amantes do Cinema cheios de saudosidades daquele tempo em que se valiam da coloração manual da película, do filme mudo ou dos filmes sobre o velho oeste.

Claro que, já pelo título, o propósito do diretor e seus produtores e financiadores, incluindo Tobey Maguire (Homem Aranha) é mostrar a grande miscelânia de nacionalidades que constroem e construíram a grande metrópole do Cinema, a Babilônia Moderna inserida em contextos dos mais diversos, desde os imigrantes da fronteira, como é o caso do personagem de Diego Calva, como das próprias composições híbridas de povos de diferentes credos.

Todas estas compuseram e compõem as equipes técnicas, trabalhadores e trabalhadoras dos estúdios, camarins, cenários, escritórios, sets e mesmo elenco dos filmes hollywoodianos. As culturas que permitem a sensação de – como dizia o oficial Vronsky sobre Moscou – uma Los Angeles provinciana e, ao mesmo tempo, tentando sobreviver diante das exigências de uma universalidade da Arte e suas referências europeias arraigadas nas elites hipócritas de qualquer país que não esteja no continente europeu.

O filme – apesar de exigir estômago vazio para evitar a náusea natural existencial – é um exercício divertido e pluralista de encontrar entre a música e história, as técnicas de narrativas fílmicas e o poder de uma imagem, uma compilação de estilos, causos, transformações, contextos e propostas artísticas dos dez anos em que o Cinema experimentou avançar do filme mudo aos filmes feitos e marcados pelos avanços nos equipamentos de som e do clássico P&B, às manchas de cor e tinturas manuais dos negativos aos sistemas e filmes coloridos.

Extraordinária a atuação de Li Jun Li, no papel de Lady Fay Zhu, Jovan Adepo, como o músico Sidney Palmer. Além dos já mencionados Margot Robie, Brad Pitt e Diego Calva, além de Jean Smart, no papel da jornalista especializada em crítica cinematográfica e que acompanhava as filmagens no melhor lugar do mundo para experimentar a ocorrência da mágica, mesmo que por Circunstancialidade: o set dos filmes que contam a história do Cinema no início do século XX.

@georgialves1

 

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