‘Antonina…. C’est moi’

‘Antonina…. C’est moi’

Geórgia Alves 

“C’est moi”… Quem não lembra de Gustav Flaubert afirmando que Madame Bovary era sobre si mesmo. Sobre a escrita de Flaubert nem ousaria discorrer sobre Pois Raimundo Carrero muito mais adensadamente já o fez e vez por outra, em sala de aula, novamente o faz. O que vim dizer ao leitor e sobretudo leitora é que não deixe de ver o filme sobre a promissora pianista que, é bem mais provável que num surto de loucura de alteridade sem qualquer boa intenção que insistimos em chamar de amor, se declara para o extraordinário compositor russo. Acontece que o amor é cego, Steve Wonder é cego e o Hermeto Pascal tão pouco, infelizmente, enxergava muito bem. A senhora, muito bem nascida e com a herança de uma floresta, propõe casamento por que Deus ainda nem sabe ou sequer desconfia, depois de enviar cartas declarativas deste tal de amor. Pois, então. Veja bem: O filme “A esposa de Tchaikovsky” está em cartaz e jamais vi qualquer livro de Literatura séria ou filme com a mesma seriedade tratar do assunto da maneira como está tudo posto em linha garrafais na tal película. Aliás, não nos pouparam sequer o detalhe ficcional da Fotografia. Pois bem, número dois Antonina Ivanovna Milyukova (vivida pela atriz Alyona Mikhailová) na São Petersburgo Czarista do início do século XIX, c’est moi. O diretor russo Kirill Serebrennikov parece ter também sofrido do mesmo surto quando resolveu expôr todas as circunstâncias que envolvem mulheres talentosas e excluídas da sociedade que ousaram chegar mais perto dos gênios. Sempre sou julgadas ou tratadas por feiticeiras, que Clarice não levante do túmulo por tão pouco, elas sempre foram malditas diante dos dutos felizes sobre eles. Pois bem número dois ou três e isto não é mesmo uma sinfonia, o que quero dizer com “Antonina c’est moi” é que, da mesma forma que a protagonista deste filé – que a crítica machista ou cheia de sonoridade para dar e vender já está chamando o filme de “um realismo fantástico”, comparando ao de Gabriel Garcia Márquez – ultrapassa qualquer entendimento para quem se faz mais preciso neste inexato campo dos afetos. Pois é que também ousei falar daquilo que senti falta na Literatura Mundial- que tanto analisou contradições de uma Anna Karenina por sua paixão por um jovem oficial, quando deixou passar em brancas nuvens o desprezo de seu marido por sua condição e corpo. Sobretudo seu corpo estava naquela chamada “sede que só entende quem namora”. Ele mesmo, Kirill Serebrennikov, fará observação necessária ao grande ponto de virada que envolve a trama e seu tanto de mundo real e de seus aspectos de inventário, ups, de seus aspectos inventados. Que nenhum ato falho nos salve. Pois, ao fim e ao cabo, Antonina Ivanovna Milyukova c’est moi tanto quanto Bovary é Flaubert e Clarice é Macabéa e pois a pois sem fim estás histórias são muito mais reais do que toda Literatura não revela. Afinal, parece, ora pois, que o Cinema resolve, finalmente, dar a Antoninina o que é dela e ao excelentíssimo Tchaikovsky todas as mentiras que lhe cabem. Sem falar na desfaçatez. E por aí vai. Bravíssimo Kirill Serebrennikov. Celebremos o cineasta bemais que ao gênio Tchaikovsky, vejamos de olhos bem abertos até onde seu cinismo foi capaz de gerar prejuízos a outros seres humanos. Até onde pode o gênio em sua desfaçatez? Fácil agora entender que G.H. realmente significa gênero humano. Afinal, quem mais poderia traduzir a repulsa deste ser que come com nojo a barata, mas a come, somente pela curiosidade de ingressar neste universo tão novo e infaniliar aos gênios. Universo tão insuportavelmente humano – para os gênios – quanto o de Antonina ou Janair. Depois de tanta repulsa percebi, finalmente, o óbvio– O mais grave é saber que, como outros tantos pesquisadores nunca me perguntei sobre o significado deste nome, por acaso somente soou importante saber o que estava por trás das iniciais G.H.? Pois é. O óbvio é mesmo oais difícil, às vezes impossível ver quando se trata de horror, nojo, ódio. Fortes emoções costumam obnubilar a mente. Pois, voltemos a ele, a primeira ideia “absurda” foi supor que provavelmente trata-se de uma origem indígena. Pasmem, também o é: Quer dizer “Arvore da Amazônia “. O segundo insight que deveria ser lido de trás pra frente. Ri – ad – na- J… Impossível decifrar. A hipótese mais simples é: Mais de cinquenta mil brasileiras e brasileiros – sim, Jandair cabe para ambos os sexos – já haviam sido batizados com este nome, em 1969, portanto – este mesmo significando a promessa de quem o carregue fosse capaz de lutar pela independência até a morte. Pois, Jandair. Pois, Antonina. Pois, o invisível óbvio nunca esteve tão diante ds nossos olhos. C’est moi.

@georgia.alves1

 

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