Amsterdam

Amsterdam

Geórgia Alves

Corra. Corra com asas nos pés para ver Amsterdam. Voe. Ver o filme de David O. Russel urge. Neste dia, que é hoje, encontra-se várias urgências. Neste filme. Tudo que se tem é o instante, aprendemos nos idos do século XX. No ano de 2001. Há uma Odisseia humana. Há vinte e um anos Amsterdam abriu ciclos e mais ciclos em nossas vidas. Amsterdam, a cidade do amor livre, amor e experimentos entre todas as cores contra todas as dores.

Porque em algum lugar do mundo as pessoas se misturam e em outro lugar do mundo se quer erguer muros? Derrubávamos muros há trinta e poucos anos. O outro lado do mundo é o outro lado do mundo e um homem branco, um homem negro e uma mulher musa, uma Hannah Hoch, artista que enfrentava Hitler com coragem em colagens. Se não é esta a inspiração para a personagem do filme Amsterdam vivida pela atriz Margot Robbie, que já brilhou em Arlequina.

Enquanto a enfermeira Valerie que encanta o soldado negro Harold, que aspira se tornar advogado, e está ainda mais estonteante e sedutor John David Washington, parceiro do Doutor Burt Berenstein, Christian Bale, é o médico com olho de vidro que enxerga a realidade melhor que todos os outros. Um general muito respeitado e admirado por regimentos de soldados feridos em combate, ou o que restou deles, o General Gil, interpretado por ninguém menos que Robert De Niro, é a personalidade que precisa convencer a polícia de que não está no preconceito a resposta para os problemas do mundo.

David O Russel convocou ainda para esta guerra mais difícil de vencer que se tivesse que diluir átomos, a atriz Zoe Saldaña, o naturalmente engraçado Chris Rock, que nos primeiros frames do filme dialoga com a audiência que acaba de ver um homem em uma caixa de madeira. O soldado Milton é a nossa cara de espanto diante de um ritual funerário do povo judaico, que ao contrário dos católicos não se utilizam de caixões hermeticamente fechados para conservar o corpo. Do contrário, a madeira fina, compensada, será inserida no túmulo feito de mármore preto. Mas nenhum caixão é melhor que o do outro. Por mais importante e rico que seja a pessoa que vai nele.

A multimilionária Liby Voze, vivida por Anna Taylor-Joy, ao lado do marido Tom Voze, vivdo pelo fantástico Rami Malek são a chave para o mistério que faz crer que toda culpa recaia sobre um médico, ex-combatente, porque é também, em virtude da guerra, agora um deficiente visual, e um negro, que também lutou por seu país e sofrerá o maior de todos os desprezos imposto pelo governo americano, caso as artimanhas desta elite não sejam expostas.

Robert De Niro não menos genial que em outras aparições, na boca de sua personagem avisa o óbvio, que vão precisar dele para chamar a atenção de multidões. A lógica do mundo é a lógica de humanos que insistem em se manter excludentes.

Manipuladores e regendo o mundo por jogos cruéis de seleção não natural, como se dá na Natureza, culpando Deus por seus crivos precipitados que tudo que fazem é confundir ainda mais tais jogos que culminam invariavelmente em dor e perda.

Uma memória que infelizmente, em trinta anos, será esquecida. E uma não solução que, tragicamente, será de novo invocada por homens que parecem não encontrar nada mais extraordinário a fazer, exceto aqueles que se ocupam da Arte, do que promover a morte não natural. A guerra. Para não encerrar assim essa história, farei o que sugere o filme, invocando a palavra certa: Amsterdam.

@georgia.alves1

 

24520cookie-checkAmsterdam

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.