Amor ao Próximo

Amor ao Próximo

Victor Fernando

Quem nunca ouviu alguém dizer: “Aproveite a vida porque ela é curta. Então, viva intensamente, brinque, jogue, beba e se divirta.”? Estes espalham sua mensagem aos povos, iludindo e desfigurando a mente dos sãos. São filhos do século, e como filhos deste século miserável, não param para pensar ou se param, veem o que está aparente, veem apenas o que está na superfície e desconsideram que a vida é mais complexa e o ser humano, mais profundo. “Viva como se fosse o seu último dia.” Mas como devo viver? “Bebendo, saindo, fazendo somente o que gosta, correndo atrás dos seus sonhos, não se limitando, festejando, brincando, viajando.” Mas como você é egoísta, seu hedonista miserável! E nosso próximo? Onde ele entra? Por que pensar somente em nós mesmos? “Ora! O próximo entra quando eu quiser que entre. O que importa, se ele é meu amigo, meu amor, minha família? Quando não tiver mais valor, lanço-o ao mar e abandono. O meu próximo só serve meus interesses enquanto me der… prazer. Amo a mim mais que o outro.” Ah, o delírio do amor-próprio! Está intrinsicamente ligado a essa ilusão do ‘viver a vida como se fosse o último dia.” Não há o amor-próprio, amigos! O que há é a razão e os sentimentos. Se faço algo ou deixo de fazer, faço-o ou deixo de fazê-lo por um motivo ligado à razão ou ao sentimento. Quando faço algo estúpido, prejudicando os outros e a mim, estou sendo um idiota e, a depender da situação, um idiota egoísta. É o chamado imaturo. Da mesma forma, quando sou sagaz e esperto, ajo com a razão. Neste caso, não posso ser chamado de maduro, porque dependendo da situação, se usar da minha inteligência para favorecer somente a mim e prejudicar aos outros, sou taxado de imaturo.

Portanto, amigos meus, amor-próprio não passa de romantismo, ilusão, e o que ele deriva, ou seja, o egoísmo, se impregna nas entranhas do século sob a forma de “aproveite a vida.”

Dito o que acho destes mitos, quero expor o que acredito ser a verdade e o bem. O que mais me preocupa, naquelas frases expressas, é o seu poder, que equivoca os que as escutam ou leem, porque ao ouvir, por exemplo, que a vida pode acabar a qualquer hora, o que fazem, no mais das vezes, é correr em busca da sua felicidade. E nessas suas buscas, esquecem totalmente do resto, elas mesmas criam suas fantasias e alienam-se, vivem no mundo dos espíritos e almejam o espírito livre. Max Stirner, filósofo que, apesar das suas ideias egoístas, influenciou a minha formação como pessoa, logo no começo do livro O Único e a Sua Propriedade, afirma que na juventude, busca-se o espírito perfeito, e nessa busca, caímos no sentimento de vacuidade. Encaramos essa afirmação da seguinte forma: busca-se a vida no exterior, e acabamos, contraditoriamente, caindo no vácuo, ou, mais precisamente, no vazio de uma vida, sentimos um “vazio do tamanho de Deus.” Esquece-se que esse mundo é transitório e as coisas, superficiais. Somente outro ser humano pode preencher-nos, seja no amor, na camaradagem ou no bem que nos fazem (excluo dessa equação o conhecimento, a leitura, a arte, a cultura e a religião, pois não estamos tratando destas coisas). Eles não devem servir nossos interesses egoístas, pois, nas nossas relações, deve-se ser altruísta, ao contrário, retornaremos à sociedade escravista, onde uns tem domínio sobre os outros enquanto esses outros trabalham para a felicidade daqueles.

Lendo Os Irmãos Karamazov e Um Breve Tratado sobre Deus, o Ser Humano e a sua Felicidade, tive uma iluminação. Na segunda obra, Spinoza, num determinado momento, aborda a temática do amor ao próximo. Neste momento ele fala até como a maneira de nos vestirmos está ligada ao egoísmo. Eu me visto, segundo o filósofo, apenas para mim mesmo e não me importo com o bem do meu próximo, não quero saber se isso será um bem para ele, desconsidero-o. Para o nosso século isso é um absurdo, pois acreditam que devemos mais amor a nós que aos outros. “É importante amor ao nosso próximo, mas o que ele me dará? O que garante que ele não irá me apunhalar pelas costas?” É assim que pensa a cabeça do novo milênio. O filósofo judeu diz mais: que até o ato de fazer o bem, em muitos casos, vira um ato egoísta, pois pensamos em nós mesmos ao praticá-lo. Já os Irmãos Karamazov, o padre Zosima foi um norte para mim, pois suas palavras, de confraternização e amor, abriram minha mente para a maneira como estamos lidando com nossos irmãos e com nós mesmos.

Acrescento ainda o poema de Friedrich Schiller. O trecho da obra Ode à Alegria “Abracem-se, milhões de irmãos! Que este beijo envolva o mundo inteiro! Irmãos! Sobre o firmamento estrelado habita um Pai Amoroso!” Faz inundar meu rosto de lágrimas, que escorrem qual as águas de uma grande cachoeira. Pendoem a minha metáfora tão simples e nada espiritual.

Pois era isso, amigos, que tenho para contar a vocês.

 

@ich.binvic

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1 comentário em “Amor ao Próximo

  1. Obrigado pela crítica, mas agora me diz uma coisa: como você conseguiu chegar a essa conclusão sem ao menos me conhecer e saber o que se passa na minha mente? Sua crítica não se fundamenta. Espero ter sido educado, pois somente por respeito ao Raul e a Georgia, eu não vou ser mal educado contigo, meu amigo gringo.

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