Figura – “The wanderer above the sea of fog” – de Caspar David Friedrich (1818)

Amanhã

Samara Lima

Sou um andarilho. Larguei bens materiais, estabilidade financeira, amigos narcisistas e uma família estruturada. Não foi uma decisão inesperada, mas diariamente eu refletia, se eu estava realmente vivendo ou apenas existindo. Até que uma centelha brilhou através dos meus anseios e, em uma manhã ensolarada, eu tentei viver.

Para os outros a minha vida era perfeita, um emprego estável, um namoro consumado, uma família completa. Mas eu não estava feliz, algo apertava o meu peito. Eram os sintomas da depressão. Todos desconheciam, ninguém imaginava que eu era um homem depressivo. Afinal, a minha vida era “perfeita”, como uma pessoa realizada, poderia ser doente? Como ele poderia entender a “dor”, se todas as coisas estavam ao seu alcance?

No fim, apesar de ter companhias, eu me sentia um homem solitário. Ao fim do dia, eu estava esgotado, ao cair da noite, eu só queria entrar em um quarto escuro, sem consciência da minha existência. Eu não era mais realizado no emprego, o namoro estava resumido a dois estranhos que se viam em curtos dias da semana. Os amigos não me olhavam nos olhos, fingiam que me ouviam, enquanto estavam com seus iPhones, e a cerveja sobre a mesa esquentava. Os familiares pareciam me apoiar, mas no fundo, eu sabia que eles não me toleravam.

Eu não sei para onde estou indo, amanhã é mais um dia. Peguei todas as minhas economias, frutos de um trabalho estafante e estou sendo feliz. Apenas estou indo, não sei onde irei parar. Amanhã posso ver o brilho do sol, ou a chuva da estação, conhecer pessoas, ou continuar sozinho. Durante toda a minha vida, eu esperei algo inesperado, mas apenas me decepcionei. A minha vida estava estagnada, até que em um deslumbre de clareza, eu acordei. Eu não sei como vai ser o dia de amanhã, mas sei que estou livre para fazer do meu dia o que eu quiser.

@samarinha.123