Ainda Temos O Amanhã

Geórgia Alves

A gente nunca deveria esquecer o tanto foi difícil para as mulheres conquistarem. O direito ao voto no Brasil. O primeiro voto no pais aconteceu, informa o portal da Agência Câmara de Notícias, da Câmara Federal, poucos anos após a chegada de Pedro Álvares Cabral em território brasileiro. Diz a matéria do dia 03 de outubro de 2008:

“A história do voto no Brasil começou 32 anos após Cabral ter desembarcado no País. Foi no dia 23 de janeiro de 1532 que os moradores da primeira vila fundada na colônia portuguesa – São Vicente, em São Paulo – foram às urnas para eleger o Conselho Municipal.

A votação foi indireta: o povo elegeu seis representantes, que, em seguida, escolheu os oficiais do conselho. Era proibida a presença de autoridades do Reino nos locais de votação, para evitar que os eleitores fossem intimidados. As eleições eram orientadas por uma legislação de Portugal – o Livro das Ordenações, elaborado em 1603.

Somente em 1821 as pessoas deixaram de votar apenas em âmbito municipal. Na falta de uma lei eleitoral nacional, foram observados os dispositivos da Constituição Espanhola para eleger 72 representantes junto à corte portuguesa. Os eleitores eram os homens livres e, diferentemente de outras épocas da história do Brasil, os analfabetos também podiam votar. Os partidos políticos não existiam e o voto não era secreto”.

Fonte: Agência Câmara de Notícias

 

Muitas de nós, mulheres, vivemos uma vida de razoável segurança e direitos assegurados pela Construção Brasileira. Dento do que é possível imaginar viver em alguma medida escapando de assédios e violências quando se é mulher. No enta de, não vamos esquecer que foi somente há noventa anos que tivemos acesso a depositar em uma urna eleitoral o nome de um candidato, ou mais raro ainda, uma candidata que fosse capaz de enfrentar as desigualdades deste mundo feito para e comandado por homens, ainda, em sua maioria. E raro uma capital como estabeleceu por meta Recife, ter paridade nos cargos públicos. Pois bem, o direito ao voto não foi uma conquista fácil e no Brasil demorou séculos! Para as mulheres.

No portal G1, a repórter Iana Camarotti nos refresca a memória que o direito ao voto ainda não é tudo que pode fazer com que experimentamos um mundo menos indolente, para usar uma palavra muito suave e diplomática aqui, com as dificuldades que enfrentamos. Não foram poucas as vezes wue vi uma estudante ser transferida de uma escola por ter se envolvido com um garoto, de maneira indecorosa e apressada nas escadarias ou banheiros do prédio, no sacrossanto ambiente escolar. O banimento sempre! Invariavelmente atingia a elas e não eles. Em geral, o garoto permanecia, no máximo com advertência a família, para na semana seguinte fazer o mesmo com outra garota.

Em 2020, 52,50% dos eleitores eram mulheres, mas elas representaram só 15% dos que conquistaram mandatos. Para pesquisadora, ‘igualdade política não é composta só pelo voto, depende de condições iguais de participação’.

Por Iana Caramori, g1 DF

 

Imagem Portal G1

 

O nó não era só na garganta

Ainda bem que existe a Imprensa e o Cinema para nos lembrar estes fatos. Em Recife, uma escritora, também vereadora, fez sessão especial para lembrar a data de 1932,

Neste mês de julho foi a vez dos curadores da Mostra de Filmes Italianos nos lembrarem o quanto tais conquistas são recentes. Antes do início oficial do festival na capital pernambucana, houve na pré-abertura a exibição da película “C’è Ancora Domani” (Ainda Temos o Amanhã). Argumento que de saída traduz com uma fidelidade estética e histórica, além de incomparável leveza, a situação das mulheres antes de sermos consideradas cidadãs. A atriz Paola Cortellesi está simplesmente encantadora. A sessão de “Ainda Temos o Amanhã” deixou nos que estavam naquela sessão a sensação do quanto ainda precisamos revisitar a história das sociedades e, neste caso, o papel importante da Arte neste desafio de vencer os vazios de nossas memórias, para jamais esquecer. Digo de verdade.

Jamais, jamais mesmo esquecer como demorou para alcançarmos um mínimo de equidade. E bote mínimo nisso, porque ainda estamos muito longe do ideal e conhecemos as falhas do mundo real. O quanto qualquer antecedente de um “incomôdo” da sociedade nos levam a situações como bem nos lembra Machado de Assis na crônica de 26 de janeiro de 1885, mesmo qua do nada, não existe sequer a lei, senhores muito polidos a pretexto de conservarem.os bons costumes são capazes de remover úmeros de uma vitrine tão depressa que não e sequer preciso que haja uma lei.

Não é possível que a própria mulher contemporânea não perceba a luta pela equidade ainda como uma pauta a ser vigiada e a urgente necessidade de sempre, de jamais esquecer de incluir a temática das conquistas sociais em festivais, a exemplo do que aconteceu na 8 e 1/2 Festa do Cinema Italiano. Insisitir em demarcar tais territórios nunca serdemais, pois sempre nos contentamos com menos. E uma luta diária contra discursos e o que Machadinho alertava:

Premissa traz consequência.

O filme de estreia da diretora Paola Cortellesi é simplesmente magnífic. Delicado em traduzir a brutalidade de uma época onde as mulheres representavam o sustentáculo do lar e da família para a sociedade. Narra a história de Delia, esposa e mãe de três filhos, dois meninos endiabrados e uma filha que se envergonha muito da mãe por ser submisa e suportar em silêncio as agressões do marido e mesmo o desrespeito do sogro.

 

Uma carta e o óbvio é sempre mais difícil de ver

 

“A chegada de uma carta misteriosa desperta a sua coragem para desafiar o destino e imaginar um futuro melhor, não apenas para si mesma”, diz a sinopse que, claro, não traduz os múltiplos caminhos que o roteiro utiliza para manter em suspenso o conteúdo da carta. A multiplicidade de oportunidades que teve Delia sempre se esgotaram diante da condição do ser mulher.. Até mesmo no dia em que segue em grande dilema, escolher ou não o destino que está guardado na carta. Parabéns, mais uma vez aos curadores e curadoras do festival. Em outra ocasião mencionei a alegria de ver prestigiada a educadora e médica Maria Montessori. Leiam também sobre este outro filme.que fez parte da Mostra.

 

A 8 e 1/2 Festa do Cinema Italiano contou com 11 edições no Brasil com programação de 10 filmes em 22 cidades confirmadas. A capital pernambucana , o Recife, sendo uma delas. As exibições ocorreram de 27 de junho a 3 de julho, numa sala de exibição pertinho de onde moro e que toda semana, praticamente, ou pelo menos sempre que posso e tenho a oportunidade, me faço presente enquanto assídua expectadora. Sobretudo quando a escolha recai sobre filmes de Arte.

@georgia.alves1

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