A toque de caixa
A toque de caixa.
Geórgia Alves
Quem não sabe o valor de umas duas horas diante da tela grande e um bom filme certamente ainda não entendeu o valor que a 7a. Arte lega aos nossos espíritos. Não há nada como um festival de Cinema e quem não estiver bem de humores não deveria jamais perder tempo com os filmes ofertados pelas plataformas “a toque de caixa”. Confesso que, até onde é possível, mantenho-me frequentadora assídua de festivais de Cinema. Nada, sobretudo ultimamente, poderia me arrastar para o lado de fora da minha caixa, à exceção do almoço com os filhos, e o necessário, e sempre urgente trabalho, que um bom filme em tela grande. Sou tão fã dos famosos festivais, capaz de raspar os últimos bitcoins a que tiver direito, ou menos que isso, pelo direito de estar diante de uma tela grande e uma “boa película”. Ainda mais quando o corpo de jurados ou time de curadores teve o cuidado de selecionar, dia após dia, as exibições. Pensando com delicado ordenamento uma agenda que contemple a variedade de produções Cinematográficas, e ainda balize emoções escolhendo este ou aquele filme para vir primeiro ou depois daquele. Enfim. Nada melhor do que ser guiado pela programação resultante do melhor da sensibilidade de críticos e artistas. La crême de la crême. Dito isto, preciso mencionar o impacto com produções recentes selecionadas para a 8 1/2 Festa do Cinema Italiano. A campanha publicitária desperta mais interesse porque ironiza e rivaliza com as plataformas de streaming a oferta de tais produções artísticas com os produtos nas prateleiras de um supermercado. São tão diferentes as emoções confrontadas por estas promoções do streaming, na minha opinião se comparadas à programação de um festival, digo com humildade. É apego de cinéfila, pois para mim ir ao cinema é tal qual um ritual, não soumenos praticante que quem siga sua religião, este hábito nos despertam um leque totalmente distinto, mais variados que qualquer produção da Pixar pode prever entre nossas emoções. A campanha mostra esta consumidora cheia glitter, numa alusão ao desejo de algum brilho nos olhos, neste caso forçoso pela maquiagem, que escolhe ou recolhe emoções nas prateleiras enquanto a narração confronta nossa vulnerável condição humana nestes tempos de profundidades perdidas. Com todo glamour do filme Barbie, novamente, meu completo respeito, não é difícil entender a ironia, nem tão subliminar, de quem concebeu a campanha. Como se as emoções fossem mesmo produto da já conhecida manipulação do Grande Irmão. O tal Big Brother. Perdi o primeiro filme, a comédia romântica Enea, o que significa que, para mim, a 8 1/2 Festa do Cinema Italiano começou com La nouvelle femme. Inspirado nas batalhas da educadora italiana, Maria Montessori, escolhas radicais. Está cientista e pesquisadora sensível às singularidades do comportamento humano que foi obrigada a fazer diante da moral e costumes da época. Da época? Bom assistir, inclusive quem acha que não evoluímos nada em matéria de direitos humanos, apesar das guerras. Indico e gostaria apenas de pedir aos encarregados do sensível trabalhor de tradução destes filmes, ainda que compreenda a aceleração destes tempo, que cuidem melhor do que todo mundo já sabe. Se já no título é dada tradução atenta, o exigente público de amantes desta Arte vão perceber e sacar dos detalhes que os demais jamais atinariam. Sob qualquer hipótese deveria a história ter seu título traduzido por A nova mulher. Quem sabe talvez acrescentar: e seu trabalho para um mundo novo, um novo modelo humano de ser e de existir. E não Maria Montessori: Ensinamento com amor. Fere o princípio do que proposto pelos que conceberam de maneira extraordinária e fora da caixa, este filme. O mais curioso é o erro se repetir de modo semelhante no momento em que aparece na tela a palavra “costume”. Fica o alerta ao tradutor e o convite aos amantes desta outra arte do amor aos detalhes.
@georgia.alves1