A FORÇA DO ENCONTRO E AS BOAS MISTURAS.

*Ilustração: pintura de Antonio de Olinda*

A FORÇA DO ENCONTRO E AS BOAS MISTURAS.

Antonio Pimentel

 

Soluções de Palhaços (Palas Athena/1998), livro da psicóloga Morgana Masetti, aborda a trajetória do grupo Doutores da Alegria. Sistematiza e socializa experiências, reflexões e ensinamentos. Muito bom e bonito. A certa altura, Morgana reflete sobre seu encontro com Wellington Nogueira, um dos criadores do grupo. Ela aponta aquele momento como seminal e diz: “A força do encontro é colocar vidas em movimento”. O encontro genuíno é potência. Transforma e faz crescer. Cria espaços e oportunidades de trabalho, amizade e amor. Gera mudanças interiores e pode mudar o mundo.

Em outro texto, apresentado num congresso, Morgana segue com suas reflexões: “Os estoicos definem as ‘boas misturas’ como encontros em que os indivíduos coexistem, sem que um destrua a natureza do outro, de maneira a permitir que a potência de cada um se manifeste”. (…) “Um cotidiano feito de boas misturas é possível se considerarmos que cada encontro convoca uma conduta ética em face do olhar que iremos encontrar”. A aproximação de duas pessoas deve ser mediada pela ética do autocuidado e do cuidado com o outro.

Bons encontros e boas misturas exigem abertura e reciprocidade. Só acontecem em vias de mão dupla, abertas ao intercâmbio. Artérias entupidas provocam infartos e podem matar. O mesmo acontece com relacionamentos sem trocas, sem fluxo de boas energias. Para tanto, Morgana insiste na necessidade de cultivarmos a ética: “Diferente da moral, que dita o que se deve fazer ou ser, a ética fala de agir em favor da potência da relação. Nesse sentido é, necessariamente, uma ética da alegria. Porque a alegria nos aproxima da ação. A capacidade de exercitar essa potência interna é, em si, um importante indicador de saúde. Por meio dela buscamos os bons encontros, que favoreçam a ampliação de nossa potência e qualidade de relação”. Alegria, potência e competências pessoal e relacional: aprender a ser e a conviver.

Gosto dessas reflexões sobre encontros, que, acredito, demandam sorte, talento e trabalho. Não caem do céu, prontos, graciosamente. São exigentes. Podem começar de repente, num banco de ônibus, numa festa, no trabalho, com um momento-centelha, mas só terão futuro com esforço e afetividade. São plantinhas delicadas. Precisam de esmero.

O conceito salesiano de “pedagogia da presença”, sistematizado pelo professor Antonio Carlos Gomes da Costa, companheiro de trabalho, já falecido, também ilumina o encontro e sua força. A presença educativa não se faz só ou principalmente com contiguidade. É mais. É sentido na vida do outro. Presença se faz e se mantém com o que Antonio Carlos chamava de “pequenos nadas”: um bom dia, um olhar de atenção, a capacidade de escutar, uma gentileza. Gestos que podem ser considerados corriqueiros e desimportantes, mas são nutrientes da presença e das boas misturas.

Tenho uma história de bons encontros na vida. Reconheço, contudo, que nem sempre cuido deles com a atenção e o carinho que merecem. Vivo no meu canto e caminho pouco rumo às pessoas. Creio que muitos fazem o mesmo. Vivemos enclausurados, ocupados com nossas lidas. Precisamos exercitar mais nosso potencial de construir convivências e zelar por elas. Em tempo de pandemia, um inverno rigoroso, creio que as coisas pioraram para alguns. É o meu caso.

Destaco encontros e, quase sempre, penso em momentos presenciais. Focalizo agora o mundo das redes sociais. Experimento bons encontros nesse terreno. Pessoas que conheço ao vivo e muitas que nunca encontrei pessoalmente têm iluminado meus dias. Recebo saudações matinais. Leio bons textos, com opiniões e reflexões instigantes. Escrevo meus textos e recebo gentis leituras, comentários e compartilhamentos. Estabeleço intercâmbios produtivos. Aprendo. Acolho lembranças delicadas e tocantes. Tenho momentos de risadas e tristezas. Sinto saudades de pessoas amigas que somem por algum motivo. Fico feliz quando elas reaparecem.

As redes sociais recebem muitas críticas. Algumas pertinentes. Deixo as críticas para outra oportunidade e celebro os bons encontros que vivencio. Eles movimentam minha vida. São alegrias diárias. Boas misturas. Obrigado!

@antoniopimentelbh

14/08/2022

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1 comentário em “A FORÇA DO ENCONTRO E AS BOAS MISTURAS.

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