Os jangadeiros e a verdade de um solar
Arte- (Ian Pontes)
Os jangadeiros e a verdade de um solar
Camus
“A felicidade em Alber Camus”, uma publicação de 1975 de Marcello Duarte Mathias ganhou novo prefácio e mais três textos inéditos. Somos informados por Rui Bebiano que, não se dispondo à mesma ousadia de Mathias – ou do próprio Camus – opta primeiro pela palavra “solidão” no anunciado do artigo.
Um paper que, grosso modo, explica o quanto a ideia de fruição na vivência das coisas no tempo presente, o abraço ao instante preciso em todo e qualquer momento de vida, do mais simples ao mais complexo. Camus escreve: “Há assim uma vontade de viver sem nada recusar da vida que é a virtude que mais venero neste mundo”.
Essa forma de entender a essência da vida de maneira “solar e plena” são a força motriz não apenas da obra de Camus, mas da própria existência do franco-argelino, como escritor, teatrólogo, embaixador.
Camus que se recusou limitações impostas por orientações políticas, fórmula apregoada por Jean-Paul Sartre e outros da intelectualidade de esquerda, do contrário, conviveu com as idiossincrasias da época sem se deixar levar pelo mesmo grau de cinismo e desesperança.
Destacar a radicalidade última das questões que o ocupavam não representa nem a ponta do iceberg gigantesco que foi capaz de deslocar de cenário gélido para tornar um abismo navegável entre questões filosóficas mais essenciais e volta às experiências da vida mesma. E, sobretudo, as interfaces destas questões na Arte, em sua Literatura.
De fato, salvo reportagens de José Teles, que nem é mesmo senão crítico de música do Jornal do Comércio, há pouquíssimo registro da passagem do escritor naquele mês de agosto de 1949, é lamentável não conseguirmos traçar melhores parâmetros sobre a visão que teve da cidade, à época.
Sendo a capital pernambucana a mais antiga entre as principais cidades brasileiras e tendo Recife surgido enquanto “Ribeira do Mar dos Arrecifes dos Navios”, oficialmente em 1537, como principal área portuária, deste lado do Atlântico. Neiw Holland em 1637 e depois Maurizstaadt.
Para Camus, não por qualquer acaso, “a Florença dos Trópicos”. Não por outro motivo, a cidade cortada por rios e pontilhada de santuários da Boêmia, a exemplo do Savoy, também chamaria a atenção de Orson Wells, autor do filme “Its all true” e “Os jangadeiros”, ainda que impressionado pela saga de cearenses e o Carnaval carioca, foi em Recife que deixou se levar pelas noites mais memoráveis de sua vinda ao Brasil que também virou filme graças às mentes brilhantes de Amim Stepple e Lírio Ferreira.
Voltando ao “Humphrey Bogard de bom aspecto”, como diria Elizabeth Haver em “Camus: A romance”, ainda seria possível recuperar em filmagens as cenas que Camus viu de janela do quarto onde ficou hospedado no Hotel Central, no pátio de Santa Cruz, próximo ao bairro chamado “Coelhos”, para onde muitos judeus se mudaram durante a ocupação holandesa, no século XVII. Região que, em virtude dos pactos cristãos, está situada na fronteira entre as chamadas ilhas de Santo Antônio e São José.
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@georgialves1
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