A Caixa Preta
Resenha por Luciana Andréa Freitas
Caixa-Preta”: mais que um livro, um pouco de cada um de nós
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Dizem que tanto as palavras “preto”, quanto “negro” foram termos usados pelos colonizadores para desmerecer as pessoas escravizadas. Sim, negros são pessoas, com olhos, boca, sentimento. Preto é ausência de cor, escuridão. Mas negros podem ser luz.
Termino o livro “A Caixa-Preta”, de Geórgia Alves, justamente no momento histórico em que Rebeca Andrade, uma mulher negra, pobre, filha de mãe solteira, destaca-se como um dos maiores exemplos de vitória no País. Primeira medalha de ouro do Brasil na ginástica olímpica feminina. E tb a primeira a levar duas medalhas numa Olimpíada. A “Caixa” de Geórgia é preta, por trazer um clima de mistério, mas, na verdade, possui todas as cores e luzes necessárias para pensarmos um mundo mais humano.
Fala da trajetória de Évora, uma moça negra, de origem simples, que trocou carreira por casamento e filhos, mas venceu traumas, realizando importantes conquistas. Numa linguagem artística e transcendente à escrita, o livro ora remete ao equipamento do avião, ora ao instrumento de trabalho da protagonista.
Imagens, sentimentos, reflexões – Numa das comparações mais interessantes, consegue nos dar a imagem de sentimentos e lembranças sendo guardados, gravados num lugar escuro dentro de nós. Faz-nos refletir sobre a importância de lidarmos com nossas dores, de transformarmos sentir em criar, expressar; de mudar a perspectiva, trocando o ruim por algo bom, o sofrimento por aprendizado.
Com o cuidado de não decair na positividade tóxica, de agradecer por coisas ruins ou a todo custo forçar uma felicidade. Ou ainda da romantização do esforço do trabalho exagerado. Não. Évora não é feliz o tempo todo. É medo, insegurança, pesar, morte. Mas ensina a voar, mesmo diante das quedas; renascer a cada novo sepultamento. Propõe o trabalho pelo prazer. O fazer pelo gostar. A prosperidade como reflexo do talento, não pela escravidão.
Assim como outras escritas de Geórgia Alves, afeita aos pensadores mais questionadores, “A Caixa-preta revela muitas coisas, inclusive, incertezas, ao modo Flusser, como lembra o escritor e psicanalista Alexandre Furtado. Cabe uma pergunta. Pra você, quem é a personagem Bio? Eu tenho minhas desconfianças.
Enfim, ficaria imenso abordar todas as faces da “Caixa-preta”. É o protagonismo feminino, a denúncia das violências, a hipocrisia humana, o Brasil pós-Pandemia, um “retrato” do Recife, uma “ode” aos Estudos e às Artes. Um misto de Literatura, cinema, música, fotografia…; um 3×4 da alma dessa escritora, cineasta, jornalista, que é tudo isso e muito mais. Um pouco de cada um de nós.
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Serviço:
Livro: A Caixa-Preta
Autora: Geórgia Alves
Editora: Viseu
Editor Chefe: Thiago Domingues Regina
Coord Editorial: Blenda Castro
Projeto Gráfico e editorial: BookPro
Revisão: Giulian Rodrigues
Copidesque: Adriele Santos
Diagramação: Clara Wanderley
Capa: Vinicius Ribeiro
Lançamento presencial (somente para convidados): Dia 25.09.21, 19h, Bodega do Marquês – Espinheiro – Recife/PE.
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Luciana Andrea Freitas é Poeta, com presença nas coletâneas “Pandemia de Palavras” e “Mulherio das Letras Portugal”, além da participação na Galeria dos Imortais da Literarte, mora no Recife. É formada em Jornalismo; pós-graduada em administração, com ênfase em Marketing; e diretora da Fábrica de Ideias. Tendo iniciado carreira como coordenadora de comunicação do SESC, direcionou-se, principalmente, ao nicho cultural, criando o blog Lidão e atuando em cocuradorias de eventos literários.