Ainda Estou Aqui
O amor
Geórgia Alves
O amor é uma constância. Uma forma constante e invisível. Se amálgama ao cotidiano. Sabendo disso, quem tomou parte da ditadura militar do Brasil insinuava a falta destes laços, mas eles estavam ali, invisíveis. Eles ainda insinuam. No entanto, ainda está bem aqui o que somos capazes de fazer ainda que tudo o que pensam os torturadores que fizeram escola neste país, permaneça em obscuros lugares das mentes menos brilhantes. Os nunca punidos ainda resistem. Jamais puníveis? Uma forma de mostrar força diante do ódio é reafirmar o quanto somos aptos e habilitados ao amor. O quanto somos incapazes de odiar mais que amar. A vida humana é feita a partir do verbo. O modo que Eunice Paiva encontrou de versar a visa que lhe restou foi afirmando este amor. Rubens Paiva foi daqueles homens que ainda existem. Ainda estão aqui e pensam assim: “Não tem como não fazer nada”. Não tem como tornar o outro, que precisa de ajuda, invisível. Não-existência é não ver o que fizeram nos porões dos quartéis. Não-existir é ignorar que um milímetro faz toda diferença numa construção. Assim como um gesto minimo. O narrador oculto do filme mostra como Eunice foi capaz de lutar. Mais que isso. Foi capaz de saber lutar com todas as forças de sobrepor a dor pungente e atravessá-la com a fagulha do amor capaz de fazer ver, de fazer pensar. Um único instante, tipo flecha, de inteligência e se pode encontrar provas, vestígios contra os “crimes perfeitos”. De homens nada perfeitos. Abrir os olhos de quem não está disposto a ver mais repetidas as cenas de tortura, e Walter Salles soube mostrar o essencial invisível aos gritos de pânico, pavor diante da iminente mão de ferro, mostrar a iminência da tortura é mais que expô-la inteira. Eunice é a prova de que nós ainda estamos aqui capazes de rir de nossos inimigos e do que sua baixeza de espírito foi capaz de fazer a homens como Rubens Paiva. Que tudo que fez de erro foi não ignorar o apelo dos amigos. Daqueles, de fato, necessitados. E nós? Como estamos? Ainda estamos aqui?
Onde estamos?
@georgia.alves1