Memórias de verão

Eugênia Câmara

Sempre que penso em verão, vem à minha memória a residência de veraneio de meus pais na praia de Atlântida.

Devia ter em torno de nove anos quando compraram um terreninho e construíram uma casinha de tijolinhos amarelos.

Tudo muito simples. Lembro que meu quarto havia apenas uma bicama e um roupeiro.

Para amenizar a austeridade espartana daquele ambiente, minha mãe colocou, presa na parede, uma boneca de cordas que, segundo ela, eu havia ganho de presente.

Não lembro de tal fato, a não ser da tal boneca. E como era feia a coitadinha; mais parecia um espantalho. Um pavor diurno diário, pois ao acordar era a primeira coisa que eu via. Por mim a teria jogado fora, mas criança naquela época não tinha muita voz ativa. E por conta disso ela ficou anos fazendo parte do meu quarto, da minha memória e dos meus pesadelos, até que um dia a arranquei da parede.

O mais gostoso de recordar é o cheiro do colchão de palha, do repelente “Boa Noite” – que matava a todos nós, menos os mosquitos -, e do cheiro de maresia que a casa tinha sempre que lá chegávamos.

Nos fundos tinha um pátio, que para mim era enorme, onde as roupas eram lavadas a mão, e penduradas em cordas presas em suportes de concreto em forma de um “T”.

Em minhas lembranças estão os dias de chuva quando a grama tinha cheiro de relva fresca, até hoje um referencial de infância. Assim como os doces que minha mãe fazia nos dias que não podíamos ir para o mar, na esperança que o tempo passasse mais rápido. Afinal, praia nunca combinou com chuva, ainda mais com crianças dentro de casa.

Impossível esquecer do telhado daquela casa onde meu pai subia para mexer na antena enquanto ficava gritando e perguntando se a imagem da TV havia melhorado. Claro, que junto a tudo isso, não podia faltar o “elegante Bombril” pendurado na antena.

Hoje, ao voltar no tempo com muita nostalgia, tenho convicção de que cheiros e memórias sempre andam de mãos dadas.

@mecalves