Homicídio Culposo
Homicídio Culposo
Jaque Machado
Nosso próximo passo é o paraíso.
É lugar último, passo definitivo.
No caminho até este lugar
Há uma trajetória de genocídios.
Esse paraíso, é assim tão recompensador para o nós de hoje?
Matamos a criança no balanço, a menina com a boneca debaixo do braço. Matamos ela ainda inocente.
Sobra a culpa nos próximos anos, a versão que se curva à força e chora todas as dores maiores do mundo, chão gelado de inox e faca e sangue. Não é possível seguir com esse nós que se consome com a tristeza e a incapacidade de se moldar às angústias, normais aos demais.
O metal se tinge de vermelho, enquanto choramos as últimas lágrimas.
Seguimos para um nós conformado e de imensos braços e pernas que servem para correr atrás do paraíso, sem saber como ele é.
Cansamos de trabalhos inócuos, não temos mais tempo para o silêncio, corremos na maior velocidade e reto e sempre e muito.
O paraíso é distante.
Quando suficientemente moldados, chegamos cheios de calos, de pesares, de brutalidades banalizadas em coletivo, somos bestas rugindo e cantado e comendo coisas, tudo tem sabor de pressa. Estamos esvaídos de nós e percebemos, que foi um longo trajeto errado, porque não estamos próximos da felicidade, mas estamos destruídos.
É decisão nossa morrer agora.
A faca treme e fala. Você precisa liquidar mais uma versão de si mesmo.
Mas já houve sangue demais. A lâmina cai das mãos. A mente treme e borbulha e do meio do oceano emergem, encontramos as versões descartadas de nós mesmo.
Uma ao lado da outra e de frente para nós, os pés tocando as espumas geladas, o chão congelante. Estamos vivos.
Estamos vivos e mortos, estamos de luto por todos os EUs destruídos. As ondas sobem, o oceano te devora.
Seguimos essa estrada fina e borrada, esperando encontrar o próximo inferno, mas também um NÓS cheio de paz, muito perto do paraíso.
Estamos cobertos de sal e águas. A luz se apaga aos poucos. Não estamos mais sós.
@jaquemachadoescritora