Estrelas que nascem

Estrelas que nascem

Eugênia Câmara

Às onze horas e quarenta minutos do dia quatro de março de 1992, no Hospital Mãe de Deus, nascia, depois de muita dor, o amor.

Recordo de quando te tiraram de dentro de mim, da palmadinha logo após o nascimento, de te colocarem em cima da minha barriga – ainda com o cordão umbilical – e quando te puseram no meu peito. Enquanto te olhava, choravas, mas nossos olhares se cruzaram. Estavas assustada, com medo talvez. Tinha os mesmos sentimentos, afinal estava nascendo junto uma mãe.

Quando chegamos em casa te deitei em minha cama e fiquei te olhando. Tínhamos muito que aprender uma com a outra. Estávamos entrando na mesma escola chamada Vida.

Lembro das noites mal dormidas, do primeiro dentinho, da primeira febre, da primeira queda – chorei junto contigo –, dos primeiros passinhos, do primeiro dia na creche.

Quando criança, adoravas a história da Cinderela. Havias decorado as músicas e cantavas junto com os personagens. Nessa época acreditavas no Coelhinho da Páscoa e no Papai Noel. Por enquanto, a filha estava aprendendo sobre a vida e a mãe seguindo a sua intuição. Sim, mães têm intuição, e atire a primeira pedra quem diz que não têm.

Veio a escola, e com ela a troca de dentinhos – e a crença na fada do dente foi embora quando visse que era eu quem colocava a moeda embaixo do teu travesseiro. Primeira decepção. A tristeza no teu rostinho me partiu o coração. Queria que essa dor fosse passada para mim. Chorei junto.

Troca de escola com novos amigos, novas conquistas e novos desafios. Junto a isso, vieram novas teimosias, também. Adolescência. Tive que me reinventar para acompanhar essa nova etapa. Nesse momento nosso curso se bifurcou. Tive que ser a professora e tu eras a aluna rebelde. Apesar do nosso duelo, próprio da idade, existe um saudosismo daquela época.

Enfim, faculdade: Arquitetura. Chegou a hora de começar a ser adulta, afinal és uma acadêmica. Durante o curso houve muitas noites sem dormir – fazendo projetos –, muito choro e muita raiva. Até que, finalmente, veio a formatura. Mais um orgulho para ambas.

Ok, está tudo bem, mas quero ser confeiteira, ela me diz. Nesse instante reformulo todas as minhas teorias aprendidas no curso de mãe. Certo, mais uma experiência para a aluna e para a mãe. Final de curso, com direito a formatura e tudo mais. Mais um orgulho dessa alma inquieta. E agora, pergunto eu, o que virá depois? Ainda não sei. A escola da vida ainda não terminou para nós.

 

@mecalves

 

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