Entre a canção dos nomes e a boneca russa

Entre a canção do nome e a boneca russa | Por Geórgia Alves

Existe um vazio. Um indecifrável espaço entre nossas inábeis solidões nesta coisa chamada contemporaneidade. Talvez por isso, tantas pessoas são levadas, do mesmo modo que “a garota interrompida”, sem qualquer explicação, para a morte. Preciso reler *Amor nos tempos do cólera”.

Não há?

Quem sabe não uma explicação, mas um sentido. E diante da falta de sentimentos talvez Camus nos explique melhor. Talvez o absurdo. Talvez. O que busca entender o filme “A canção dos nomes”, talvez coincida com o propósito da série “Russian Doll”, talvez não. A Polônia não foi e nunca será russa. Mas entre sua hospitalidade e sua maneira calorosa de acolher as cordas de um violino, nós, brasileiras e brasileiros, reconheceríamos um ou outro nome. Como o fumo da madrugada, ou Rappó. Do pó viemos ao pó… Entregamos as cinzas. As memórias interrompidas. As existências lembradas nunca canção. Num livro, que enviei a Portugal, segue uma nota. Musical e disfarçada de célula. Um pedido de socorro. Eu, Natasha Lyonne, Amy Winehouse e Poehler. Eu por Leslye Headland, ou Martin. Quarenta e cinco anos depois. Eu François Girard ou Norman Lebrecht.

Desde que ouvi a voz de Billie Holiday no corpo de uma mulher branca e loira pergunto se não estamos a confundir de corpos. Habituados ao absurdo da falta de sentimentos. Habituados às ausências de sentidos. Hoje, minha cidade se encheu de violinos. Estava encerrada em um gueto, um porão que tirasse da possibilidade de ser um indivíduo diante da tirania de um corpo envernizado.

As religiões foram criadas para nós fazer entender o etéreo ou a eternidade. Mas, infelizmente, e de fato, continuam ceifando a chance de existir como a forma mais próxima ou mais distante da grande beleza, a Arte.

@georgia.alves1

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