Dias com Spinoza

Dias com Spinoza

Por Geórgia Alves

 

“Dias de esperança”. Foi o que imaginou ter dito Spinoza – quem escreveu o documentário O apóstolo da Razão – ao se lembrar o motim, comandado por um pescador de Nápoles, contra a cobrança de impostos abusivos pela coroa espanhola, movido por grande ódio e revolta, depois de testemunhar a violência dos cobradores na violação da própria mulher. Masiniello mobilizou compatriotas napolitanos por seis dias. E, por pelo menos esta semana sagrada na memória dos que lutam e acreditam na liberdade, viveram o sonho da democracia. O levante conseguiu a promessa do Rei por preceitos mais justos na relação com o povo. Conta a história que Baruch, amigo, aluno e vizinho de Rembrandt, pintou um quadro em homenagem ao revolucionário pescador de Nápoles, onde retratava não apenas a figura do herói mediterrâneo, mas a si mesmo. “Num excesso de juventude”. O fato ocorrido em 1647, quando o “filósofo-pintor” tinha quinze anos, não lhe saiu da memória e o inspirou até a idade adulta. Giambattista Vico, este também filólogo, brotaria do anonimato da Universidade de Nápoles, pelo trabalho incansável de distinguir a certeza da verdade, também para nortear reflexões espinosianas. Mais tarde, as ideias de Vico se popularizam com a ajuda de uma menção em carta trocada por Karl Marx (1818 – 1883) e Ferdinand Lassale (1825 – 1864), como nos conta Alfredo Bosi:

“Marx menciona Vico pela primeira vez em uma carta a Lassale datada de 28 de abril de 1862. Aconselhando o destinatário a ler A Ciência Nova a propósito de um livro que Lassale escrevera sobre a jurisprudência dos direitos adquiridos, Marx recomenda-lhe a versão francesa, La Science Nouvelle de Vico, feita pela princesa de Belgioso e editada em Paris em 1844. E adverte: “Serviria muito pouco trabalhar com o original da obra, pois está escrita não só em italiano, mas também num peculiar dialeto napolitano”

Entre outras figuras ilustres que inspiraram Baruch estavam os irmãos De Witt, além de outro artista nascido em 1606, um mês antes de Espinosa, Johannes Vermeer, também pintor, e Anton van Leeuwenhoek, o inventor do microscópio. Baruch de Espinosa é, com toda a justiça, considerado um dos grandes da história da filosofia — “o filósofo dos filósofos” ou, como disse Bertrand Russell, “o mais nobre e o mais amável dos grandes filósofos”.

@georgialves1

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