O FOUND FOOTAGE DE HORROR

O escritor do som

O FOUND FOOTAGE DE HORROR

Por Geórgia Alves

O escritor e professor de Cinema da Pós-Graduação em Comunicação e do Bacharelado em Cinema da Universidade Federal de Pernambuco. Com Mestrado e Doutorado em Comunicação – Cinema, se destaca sobretudo pela especialização e estudos do som no campo do Audiovisual e pela intensa produção literária acadêmica durante a travessia do velho moderno para o novo pós-mundo.

Rodrigo Carreiro descobriu outro lado do momento terrível que enfrentamos com o isolamento e a pandemia. Quando o vírus mais famoso dos últimos séculos reinava vitorioso, devastando vidas nos mais diversos territórios do planeta, Rodrigo escreveu e publicou três livros!

O Found Footage de Horror, pela Editora Estronho, O som do Cinema e A Linguagem do Cinema. Os três saindo neste mesmo ano, o primeiro, organizado por ele que também escreveu o primeiro capítulo, o segundo, O som do Cinema, publicado pela Editora da Universidade do Paraná. O terceiro em versão gratuita pela Editora da Universidade Federal de Pernambuco, teve o e-book distribuído, ainda à disposição de quem o prefira a ler deitado na rede, versão física: A Linguagem do Cinema – uma introdução. Coletânea realizada a partir de dez anos de estudos e da atuação como professor. Pelo Lápis – Laboratório de Pesquisa da Imagem e do Som.

Recebo Rodrigo Carreiro em minha estreita sala de estar virtual, numa sexta-feira, não era treze, mas uma noite que celebrávamos a vacinação em massa, num momento de vislumbre, em que, gradativamente viveríamos o alívio de irmos nos despedindo do isolamento, do claustro, daquela era que nos tinha deixado sem fôlego e a algumas e alguns sem vontade para nada. Que dirá o esforço de escrever, dar aula, trocar ideias, sistematizar, pensar e publicar.

Pois Rodrigo fez tudo isso, e, recentemente, de volta ao mundo real, que não parece mais experimentar o “novo normal”, atravessa tratamentos médicos para recuperar falanges rompidas num assalto estúpido, violento, que sofreu na adoção do novo hábito: Locomover não de carro, mas de bicicleta. Enquanto uns lutam por um mundo melhor, parte do mundo insiste em se manter cão.

Você não apenas superou o isolamento pela Pandemia com uma produção impressionante, como também demonstrando grande agilidade. Primeiro perguntei sobre o livro solo: Found Footage de Horror.

GEÓRGIA – Valeu a pena tua espera para publicar?

RODRIGO – Parte desse material que saiu este ano, o primeiro em fevereiro, depois em 22 de julho e o terceiro em agosto, partiu de uma publicação coletiva, a gente teve um ano muito produtivo e frutífero em termos de reuniões do grupo de pesquisas, até de forma insólita, pouco convencional e pouco esperada. Uma regularidade impressionante, que eu não esperava, realmente, que o ano fosse tão produtivo em plena pandemia. Todo mundo se adaptando a estar em casa, trabalhando com filhos em casa. Como horários distintos.

GEÓRGIA – Como foi o trabalho pelo Lápis? O nome é magnífico!

RODRIGO – Toda quinta-feira à tarde, a gente manteve a disciplina de estar se reunindo, manter a rotina. Na minha perspectiva, muito profícuo, porque a gente se reunia para ver filmes de modo coletivo, discutir textos com base em filmes, ler junto livros, chegamos a ler um livro inteiro juntos. Também a fazer, inclusive, dois workshops para manter a interface entre mercado e academia. Dois workshops de edição de vídeo e de edição de áudio. E desses encontros todos acabou germinando a ideia de a gente organizar a nossa produção enquanto um e-book. Como a gente não tinha financiamento direto, este e-book foi financiado, em parte, financiado por mim, que tenho a oportunidade de desfrutar de uma bolsa de produtividade e pesquisa pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a outra parte diretamente pelos próprios participantes, comprometidos também pela venda dos livros. Foi o único dos três livros que foi produzido efetivamente no período de isolamento e pandemia.

GEÓRGIA – Fala um pouco do livro Found Footage de Horror, pela Editora Estronho.

RODRIGO – É fruto de dez anos de estudos, desde que defendi a tese de Doutorado. É resultado de uma pesquisa individual. Poucos meses depois da finalização da tese de Doutorado, iniciei como professor em 2011, e ingressei no PPGCOM da UFPE, como docente, e para ingressar no programa é preciso ter um projeto de pesquisa registrado. Aí eu decidi que o projeto que me interessava mais era a intersecção de estudos em Sound Design (Desenho de Som) e Cinema Popular de Gênero, que era o que me interessava, neste caso eu tinha estudado o gênero Western, no Doutorado, e queria estudar dessa vez com o Horror.

GEÓRGIA – Quando você se decidiu pelo Found Footage

RODRIGO – Exato. Foi quando escolhi o Fooud Footage, embora fugisse um pouco, no cerne da pesquisa eram estes filmes. Porque estes filmes me pareciam, desde o início trabalhei com esta hipótese, fazer uma organização estilística diferente, pouco convencional, desviante mesmo dos padrões técnicos. Naquele momento já tinha alguém pesquisando na área da imagem, mas não na área do som, que eu tinha background. E pude apresentar esse projeto em congressos e seminários. Os mais importantes da nossa, da minha área, além de revistas especializadas.é águas passadas. Aproveitei o tempo do Pós-Doutorado para organizar. O livro já estava pronto desde 2018. Quando tirei um ano sabático para publicar um livro com pesquisa de campo. Acabei publicando enquanto estava produzindo, ao mesmo tempo, outras coisas foram acontecendo ao mesmo tempo. Sabe quando os planetas se alinham?

GEÓRGIA – Nem ia comentar, que quando escolhemos a sexta-feira à noite, que é melhor falar em horror numa sexta-feira à noite, não num sábado, embora sendo dia nove de julho, e não treze de agosto, o microfone falhou – Logo o microfone! Não cremos em bruxas, mas que los jay, los jay.

(A plateia envia o seguinte comentário: É porque vocês gostam de trabalhar mais de dez anos em um mesmo projeto)

RODRIGO – Não é nem gostar. Acaba acontecendo. (Continua)

 

11000cookie-checkO FOUND FOOTAGE DE HORROR

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.